PHOTO BY CÁTIA ALPEDRINHA

It lies right here

October 31

I don’t remember thinking about my body in my childhood. My relationship with it was quite a happy, functional one: it allowed me to run, swim as much as I wanted to, stretch, feel warm or cold, or warned me through my tummy whenever I ate too much ice cream.

But when teenage-hood arrived, something changed: there were times in which I felt too tall, too skinny. Others where I eagerly wanted to hide my breast. Were my legs too tall, too short? Was I too blonde, or not blonde enough? Comparison-age had begun and brought along the age of ‘not being enough something’: are you one of the most beautiful? Are you one of the most sexy? Be less than ‘that’ and you are doomed.

I am now aware of how much I punished my body with diets, exercise, wrong food and cigarettes, just for the sake of trying to have ‘that body’. Until the day I woke up in my forties and said to myself: ‘I have a great, healthy body, enough of bullshit’.

Why is it that no one teaches us to praise our body since childhood? 

Our body is the most sophisticated ‘machinery’ that has ever been created. So brilliant and efficient that not even our intelligence has ever been able to design something similar. It works 24/7, extracting oxygen from the outside and distributes it to every organ, tissue and cell. It filters and pumps one of our elixirs – blood – to nurture and balance our mood, our bio chemicals and vital levels. It digests unimaginable things, even those it cannot associate to any human menu, and manages to pull out all that may harm us. It allow us to walk, jump, kick, run, conceive and raise another human being, and also sense the most subtle things: a warm breeze that announces the summer, the slow descent of temperature before autumn, a music that fulfills us with joy. 

Our body is so extraordinary it even warns us when we are pushing the limits too far,  and makes us sick in order to stop us and ask ourselves what the fuck are we doing with our lives.

And still, we do not praise it.

And still, we do act as if we could live without it.

And still we, women, intoxicate ourselves with comparison when the truth is we were blessed with a perfect body, one that only asks us to do our part.

In this 8th edition of Womanity, we are bringing you examples of people that have worked out their relationships with their bodies: my beautiful 91 year-old mother, an oncology surgeon, a woman who lost one of her arms, a woman who has been helping people to develop themselves throughout her life, a CrossFit trainer who was a soldier, a photographer who loves bodies, and a man that worships women.

Dear you, this Body edition is not about the perfect bodies you see in the magazines. It’s about the perfect body that lies right there, from your head to your toes.

Alexandra Quadros

Andreia Mota Pacheco

Crossfit Coach, Personal Trainer

Técnica de Exercício Físico 

Ex-Militar do Exército Português

Amante do Desporto, da família, dos amigos, da vida, das pessoas.

“Sempre fui assim, defino o que quero e vou atrás”

Andreia, és Personal Trainer mas ouvimos dizer que há um percurso militar na tua vida. Queres contar-nos?

Sim, Sou Personal Trainer e Coach de Crossfit neste momento, mas o meu percurso profissional iniciou-se no Exército Português. Ingressei na carreira militar, posso dizer que meio por vontade, meio forçada em o fazer. 

Filha de lavradores, apenas o pai a trabalhar, 6 filhos, vivi grande parte da minha vida num ambiente agressivo e bem medido sobre tudo o que tínhamos, ou então o que não tínhamos. Uma gestão familiar enorme; sendo nós 3 filhos e 3 filhas, a linha da oportunidade era muito ténue na nossa vida. Pai muito estruturado sobre o que o homem e a mulher podem e devem fazer neste mundo, tendo crescido e sendo formatado para a desigualdade de géneros, entre o direito dos homens e os deveres da mulher, passou toda essa estrutura para os seus filhos, e, claro, que sem qualquer consciência sobre o que estaria a construir. 

Sendo eu a menina mais nova da família, senti o que os meus irmãos viveram, observei todo o seu percurso até à idade adulta, tornando a minha visão mais clara sobre o que eu queria ser, e muito mais clara ainda sobre o que eu não quereria de todo ser.

Sabendo a dificuldade que seria para os meus pais pagar os meus estudos e os dos meus irmãos, avaliando as poucas oportunidades que tinha, soube desde cedo que, mais cedo ou mais tarde, teria de ter um plano B, se realmente queria sair da linha delineada do que poderia ser o meu futuro. 

Maior de idade já, aficionada pelo desporto e pela adrenalina, pela entre-ajuda e com um espírito humanitário que ambicionava mais e mais, alistei-me no exército para, não só ir ao encontro dos meus gostos pessoais, mas também como escape ao rígido regime vivido dentro das paredes lá de casa. Treinei afincadamente para passar. Passei. E, apenas depois dessa certeza, veio a parte mais difícil deste processo: contar ao meu pai, sabia que não iria aceitar de bom grado, na sua mente ” as mulheres não vão para a tropa”, nem ele o fez, quanto mais a sua filha mais nova. Impensável, mas não teria outro remédio senão aceitar, pois eu iria na mesma: com 18 anos já era senhora do meu nariz ( achava eu ). 

Fui. Contra sua vontade ou não, saí de casa aos 18 anos, e tornei-me bastante independente desde então. Na minha carreira militar fiz de tudo um pouco, fiz questão disso, não queria de todo estar estagnada num local ou numa ação. Aprendi de tudo, fui construindo e marcando a minha presença, a minha vontade, o meu rigor, a minha disciplina e, com tudo isso já bem vincado num mundo maioritariamente ( na altura )masculino, consigo de lá extrair ” a maior e pior experiência da minha vida”, se assim posso dizer. 

Abril de 2013: parto para o Afeganistão em missão pela NATO, com o 6.º contingente português da Força Internacional de Apoio à Segurança no Afeganistão (ISAF). Foi sem qualquer hesitação que aceitei a nomeação/convite para integrar esta missão. Não era obrigada a ir, nunca fui, era uma opção de escolha, mas para mim a escolha foi sem dúvida só uma: ir.

No meio da choradeira que abalou as mulheres da minha família com tal notícia, perante os homens tornei-me uma inspiração, uma referência, um orgulho, um exemplo a seguir, não que para a minha mãe e irmãs não o fosse, mas a verdade é por entre as lágrimas, a oportunidade de sentir mais alguma coisa era pouca. 

Foram meses de preparação, não só física mas muito emocional, e o mais difícil não é para quem vai, é para quem fica. E aí, o trabalho a ser feito, para ser aceite de uma forma mais leve, é exigente, as estratégias para o menor sofrimento possível da família eram muitas; mas numa família grande, há sempre distração e por isso tudo se passou da melhor forma, entre muitas lágrimas e sorrisos, assim parti eu para um país que vive tudo menos paz, sabendo que iria ser exigente a vários níveis, e assim o foi. Uma experiência que me fez o que sou nos dias de hoje, que me tornou, ou melhor evidenciou ainda mais a pessoa que sou. Tudo o resto, o desenrolar destes 6 meses por lá, ficam para quiçá outra entrevista no futuro, pois as páginas talvez não chegassem para descrever tanto do que senti.  

Por que razão saíste do exército?

Saí por uma mistura de vários acontecimentos, na verdade. Posso dizer que o meu objetivo sempre foi ficar, adorava aquela vida, vivia bem numa farda militar, tem tudo tão a ver comigo sabes, e tinha os meus objetivos bem definidos. 

Queria seguir e fazer carreira militar, entrar para os quadros permanentes e marcar pela diferença. Mas depois, por vários acontecimentos ao longo dos anos em que lá estive, as ideias fixas foram-se desvanecendo. Tentei entrar nos quadros por diversas vezes e por diversos motivos não entrei. Tudo bem, aceitei, segui, tentei 

na próxima. Contudo, neste processo via camaradas meus a entrar, e não querendo tirar o mérito a ninguém, mas conhecendo as pessoas, sabia à partida do que seriam capazes ou não, e ver certos homens a entrar, e ver algumas mulheres a ficar para trás fez-me questionar muitas coisas. 

Nos últimos anos, entrei num processo de análise do que se passava em meu redor, sobre o que iria conseguir fazer. E, ao observar todo um sistema tão marcado e com tão pouca abertura para o que pudesse querer fazer da minha vida, foi-se lentamente destruindo algum do gosto que tinha sobre aquele modo de viver. 

Os dias vão passando, o sistema não muda, talvez até regrida, as condições tornam se mais relevantes, já se sobrepõem à paixão pelo que fazes, e a partir daí já tudo faz confusão, já tudo irrita, já tudo faz comichão: a diferença, os estatutos, as cunhas, os interesses sobrepostos à justiça, a falta de paixão, a falta de motivação por muitos, já tudo me fazia dor de cabeça, e não queria aquilo para mim, não queria viver num sistema muito injusto que não valorizava o trabalho dos mais aficionados pela profissão. Com tudo o que se vivia, saí pela desmotivação, de não existir mais investimento sobre os soldados portugueses, os mais trabalhadores, os faz-tudo, os que sem eles, mais nenhuma poderia existir, somos a base da pirâmide e sem nós nada se ergue.   

Essa parte da tua vida modificou a tua relação com o teu corpo? Ou o que se modificou com essa experiência foi a relação mente-corpo?

Sem dúvida a relação mente-corpo, muito mais mente, como eu costumo dizer, o corpo vem por consequência. 

No meio do meu mundo de homens, muitos na família, parte militar muito evidenciada por elementos masculinos, sempre fui muito mulher, rígida, por vezes severa, ou fria, o que me tornava “homem” no mundo deles, mas sempre com o meu lado feminino, esse teria sempre de existir, nem que fosse, por um cabelo comprido, por umas unhas que apesar de proibidas de pintar teriam de estar arranjadas, seja por um simples ajuste na farda, realçando pequenas curvas no meu corpo, disso eu fazia questão. 

Mas éramos colocados na maioria das vezes de forma igual para igual, os parâmetros de exigência muitas vezes iguais, a rigidez, a dureza, o extremo de muitas ações era vivida da mesma forma, e fisicamente tornava-se, sim, muito desgastante. E para aguentar com muitas das coisas, sem duvida que a tua mente muda, porque tem de mudar, se queres sobreviver naquele meio, se queres sobretudo deixar a tua marca, a tua mente tem mesmo de mudar, tens de aguentar, tens de te tornar resiliente e ponto final, só assim conseguirás continuar, e suportar tudo. Por isso, sim, esta parte da minha vida modificou muito a minha maneira de pensar e de resistir, e com tudo isso o corpo muda: fisicamente o desgaste fisico era grande, a preparação para muitos dos exercícos, das provas, das missões, e todo o treino acaba por se refletir no corpo de uma boa forma, claro. 

Foi depois de saíres do exército que resolveste tornar-te PT? Porquê?

Quando fui para o Afeganistão, fiquei no campo internacional em Kaia, Cabul, onde se encontram todos os contingentes internacionais, convivia diariamente com todas as nacionalidades que possas imaginar. 

No meio do caos, também tínhamos a nossa calma, campo com bases militares melhor estruturadas como as dos americanos ou franceses, entre outros, que permanecem em missão muitas vezes um ano ou mais, e quando assim o é, as condições de vida por lá tornam se outras. 

Tínhamos tendas de campanha com ginásios, muito old school claro, mas dava para treinar e era o mais importante. Treinava sempre que podia, às horas que conseguia, literalmente ás horas que conseguia – nunca pensei treinar alguma vez na vida ás 5h00 da manhã ( americanos malucos ), tínhamos também um campo descoberto, cimento duro, ríspido, com 2 ou 3 contentores de material enferrujado mas já com um andamento brutal, onde se praticava uma modalidade chamada Crossfit. Foi lá que descobri pela primeira vez esta modalidade, este treino pelo qual me apaixono todos os dias. 

Um treino variado, funcional e de alta intensidade. Entrei naquele meio, naquelas turmas malucas com mulheres fortíssimas que eu idolatrava, tentando na minha humilde capacidade ser um dia assim, como elas. Treinei dentro do que consegui durante os meses de missão, e  sempre gostei de treinar, sempre gostei de ver o meu corpo transformar-se consoante o estimulo de treino diferente que recebia, a mudança de capacidade, a evolução nos movimentos, nas técnicas, nas cargas, sem duvida que me apaixonou. 

Quando voltei a Portugal, no meio onde estava integrada não se praticava tal coisa, nem sequer sabiam o que seria. Então, voltei ao meu dia a dia de ginásio banal, mas todo esse processo me fez querer mais. Com tudo o que se passou nos últimos anos de contrato, e sem ainda conseguir entrar para um quadro permanente no exército português tinha em mim muito bem delineado que não iria nunca sair sem ter já um caminho novo a seguir. Então no último ano iniciei logo a minha formação em desporto, tirei o curso de técnica de exercício físico, para poder sair tranquilamente, com um outro caminho para percorrer. Sempre fui assim, defino o que quero e vou atrás, muito poucas coisas me impedem de fazer o meu caminho.

Tu trabalhas com e para o corpo dos outros. O que é que mais te fascina no teu trabalho?

Adoro a transformação sim, mas não em aspectos físicos. 

Trabalho para dar saúde, para melhorar qualidade de vida, e por consequência os objetivos de cada atleta são evidenciados mesmo a nível físico, mais estético. E isso eu deixo sempre bem claro, pois eu própria sou assim, toda a minha parte mais estética, vem por consequência de tudo o resto. 

Então, fascina-me alguém que me chega completamente sedentário, sem mexer fora de uma intensidade diferente de uma simples caminhada de 20 minutos ao fim de semana, passar a conseguir concluir um treino de uma hora, sem limitação física de movimentos, isso fascina-me sim. E com isso, mais ainda adoro o resultado final: ” Treino, tenho uma melhor qualidade de vida, os meus dias mudaram, sinto-me capaz de fazer tudo, e olho ao espelho e gosto do que vejo.”, feedback assim, só me pode fascinar, não é ?

Como vês a relação das mulheres com o seu corpo? É algo em que procuras ajudá-las também?

Claro que sim. Todos os alunos que tenho atualmente passam por um processo inicial em que não só avalio a sua condição física, mas também todos os seus objetivos, tento sempre saber o porquê de querem treinar, o que os move, o que ambicionam, o que desejam, e tento sempre ir de encontro a isso, claro. 

Independemente de qual o seu objectivo, é nosso dever não só ir de encontro a isso, como tentar com que cada atleta acima de tudo se sinta bem, que entenda cada passo, que entenda e aceite o processo. Por isso, é meio caminho andado quando tu gostas de ti, e aceitar o teu corpo é isso mesmo, é gostar de ti, é amor próprio. Sou muito assim, gosto de mim, sou a pessoa que mais me ama no mundo, e contudo quero sempre melhorar, porque quero gostar cada vez mais de mim, quero me amar mais ainda. Na verdade,” Se eu não gostar de mim, quem gostará?”; tento passar isso, ensinar a gostarem de si como são, e perceberem que o processo de transformação será para gostarem mais ainda, levando assim todo o caminho do treino mais leve, menos frustrante.

Quais são os teus hobbies escondidos? Sabemos que adoras dançar… que mais?

Considero me uma mulher muito multifacetada, faço muitas coisas, e muito do que faço é por enorme paixão.

Adoro cozinhar, é uma grande terapia para mim, quem já provou diz que não cozinho nada mal.

Adoro viajar, conhecer pessoas, teatro, muita música por favor, e adoro dançar sim. Se não tivesse envergado pela carreira militar queria ter seguido artes performativas. Isto é uma revelação para muita gente, um lado que nem todos sabem de mim, sempre gostei de palco, de música, de dança, e a dança para mim tem um efeito tão libertador que é impossível não apaixonar. 

É mais uma terapia, algo que faz o meu corpo mover e sentir de uma maneira que nada mais faz. Gosto da sensação de mais mulher que me dá, do poder do feminismo, da presença que marca, da sensualidade que realça, da conexão que transmite. Respirar dança é quase como respirar paz, tranquilidade, momento onde se ignora tudo o resto, onde amas o teu corpo, amas a forma como o descobres, como ele te inspira. Dançar, cozinhar, sorrir, é como treinar para mim: faz-me bem à alma, ao corpo e ao coração.

W-LGBT

Susana Ourô

Amo a Ciência, busco Conhecimento e respostas.
Sou apaixonada pela Arte e a Música alimenta-me.
Viajo e vivo, tudo o que posso. A Vida, o nosso bem mais precioso.
Defendo a Liberdade e o Humanismo. A Integridade e a Empatia.
Sou Médica, Cirurgiã. Mulher.
E tenho o maior dos privilégios, cuidar dos outros. A quem dedico a minha vida.

Entrevista

Kareemi

Kareemi é brasileira, pedagoga menstrual, pesquisadora e autora do Long Seller “Viva com Leveza” (editora Gente).
Em 2017 criou a Ginecologia Emocional, metodologia de autoconhecimento cíclico que devolve à mulher a capacidade de reconhecer as origens emocionais de suas irregularidades ginecológicas.
É também mãe da Gaia de 5 anos, pessoa com deficiência e feminista 😉

O Protagonismo Feminino sobre corpo, seus ciclos e ritos de passagem.

Quando falamos sobre “protagonismo feminino”, falamos sobre a mulher estar à frente de suas escolhas em tudo aquilo que contempla sua vida pessoal e social, no entanto observo que ainda estamos longe de perceber que o protagonismo feminino requer, antes de tudo, o poder de decisão que (ainda não) temos sobre o que se refere à nossa saúde íntima, ginecológica e sexual.

Ainda terceirizamos respostas sobre conhecimentos que não temos sobre nosso próprio corpo, ciclo menstrual, fertilidade porque a sociedade nos moldou a terceirizar essas respostas, a colocar essa responsabilidade na medicina alopática. E assim, perdemos a autonomia sobre algo muito poderoso e que transforma nossa saúde física e emocional nos tirando do ciclos nocivos de problemas menstruais e doenças ginecológicas: o autoconhecimento cíclico.

Minha história na atuação dessa consciência começou há cerca de dez anos atrás e de uma forma muito inesperada…

Eu fui uma menina educada para ser feminista no sentido de ocupar o lugar dos homens em tudo e não depender deles para nada. O que a meu ver, não deixa de ser um pensamento que exclui o masculino – muito mais do que ser feminista. Sou formada em Comunicação Social e atuei como jornalista em rádios e TVs do Brasil, sempre num ritmo de vida bem acelerado, mental, e completamente desconectada do meu corpo. Minha mente sempre foi mais forte. Eu fui diagnosticada com a “Síndrome dos Ovários Poliquísticos” aos 16 anos e vivi tomando anticoncepcionais hormonais por 15 anos, brigando com minha menstruação, sofrendo com acne, TPM, candidíase e vários outros problemas dessa ordem.

Mas, para que eu entendesse o que explico hoje e se tornou meu propósito, eu precisei perder um pedaço importante do meu corpo de uma forma trágica.

No finzinho de 2011 eu estava a viajar em um ônibus de dois andares e sofri um acidente muito grave que me deixou entre a vida e a morte. Eu sobrevivi mas sem meu principal braço. Perdi o braço direito e vivi toda uma redescoberta sobre meu corpo no processo de reabilitação e aceitação.

Foi um processo difícil mas eu agarrei a oportunidade de estar viva e me conectei com meu corpo como nunca! Foi um ano após essa perda que passei a questionar o uso prolongado da pílula anticoncepcional (tão agressiva e sem resultados) e acabei caindo em conhecimentos muito antigos, naturais e que não só me ajudaram muito, mas também causaram uma revolução na minha relação com meus ciclos e feminino.

No começo de 2013, eu já atuava como palestrante motivacional por conta de todo esse processo de aceitação com minha deficiência e novo estilo de vida. E então comecei a aplicar em grupos de mulheres alguns conhecimentos sobre Ginecologia Natural, uma visão e sabedoria ancestral mais cultivada pelos povos andinos que se baseia no tratamento para problemas ginecológicos com plantas e ervas medicinais. Porém, observei que fui transformada mesmo, ao aprender sobre o verdadeiro significado do ciclo menstrual e ritos de passagem como a menarca, climatério e menopausa.

O fato de sermos cíclicas, termos desconfortos nos período pré-menstrual, ou desenvolvermos qualquer problema ginecológico, vai muito além de fenômenos biológicos e/ou hormonais. Vai muito além de usar um medicamento.
Tudo isso são mensagens do sistema ginecológico sobre o que precisamos mudar em nossas vidas, sobre o quão dolorido está nosso feminino e pode falar, inclusive, sobre questões da nossa ancestralidade.
Desenvolver autoconhecimento cíclico, vai também muito além de entender suas fases hormonais e se prevenir de uma gestação indesejada. Você passa a entender essas mensagens quando se conhece nisso, e então a verdadeira autonomia e protagonismo sobre o próprio corpo, começam a acontecer!

O ciclo menstrual é o verdadeiro mapa comportamental da mulher que lhe dá direções sobre absolutamente tudo em sua vida! Ele funciona como um oráculo. E conhecendo isso a fundo, qualquer mulher é capaz de reconhecer as origens emocionais e comportamentais de suas irregularidades no ciclo e doenças ginecológicas. E isso não exclui a medicina moderna. Ambos conhecimentos precisam ser integrados. O que vai mudar é que ao ter total propriedade sobre o que ocorre em seu corpo, a mulher pode discutir o que aceita ou não como alternativas de tratamento.

Em 2017, após anos já atuando nessa área como pesquisadora, criei a marca e método de autoconhecimento cíclico chamado “ Ginecologia Emocional “, que consiste em disseminar esses conhecimentos e desenvolvimento feminino. Esse nome traduz exatamente o que a ginecologia é: emocional. Nosso corpo responde às nossas emoções e somatiza aquilo que não nos faz bem como mensagens para nos cuidarmos e voltarmos nossa atenção ao que precisamos curar em nossas vidas.

O sistema ginecológico, somatiza questões que envolvem nossa energia feminina, tudo o que envolve a condição de habitarmos um corpo cíclico. E envolve também a intuição feminina e toda uma sabedoria oculta que, quando descoberta, traz poder e liberdade!

Eu nunca imaginaria que um dia fosse trabalhar com esses assuntos, já que negava tudo isso em mim mesma. Mas a minha vida fez um movimento muito intenso comigo, com meu corpo e minha consciência o abraçou! Meu corpo amputado e minha história inspira muitas pessoas, mas meu propósito se tornou levar a Ginecologia Emocional a milhares de mulheres através das redes sociais, cursos e palestras, lembrando que o protagonismo feminino começa por entender como funciona o nosso corpo.

Aqui no Brasil, não temos políticas públicas menstruais, os hormônios são prescritos indiscriminadamente e 1/3 das brasileiras em idade fértil são diagnosticadas com endometriose. Tudo isso muda quando a educação menstrual é inserida na sociedade. As mulheres ganham autoconhecimento, autonomia, saúde física e emocional; O sistema de saúde ganha por reduzir essa demanda; A sociedade ganha com mulheres que vivem seus ciclos de forma harmônica sem sofrer com tantos problemas por falta desse tipo de informação. Se você sofre com seu corpo seja por questões menstruais ou doenças ginecológicas, lembre-se que isso lhe convida a revisitar sua história feminina, dores e amores, questões que ressoam no seu campo emocional e energético e que estão lhe pedindo atenção e ajuda. Resolver qualquer problema no corpo, inclui autoconhecimento e disponibilidade.
Você é sua cura! Invista no seu autoconhecimento cíclico. Nos últimos quatro anos quase três mil mulheres já passaram pelos meus workshops e seguem vivendo essa reconexão feminina, livre de hormônios e com tratamentos adequados e diagnósticos fechados. 30% desse número, são portuguesas, africanas e mulheres de outras nacionalidades que falam português. Posso afirmar que se você quer viver uma revolução em sua vida e se tornar protagonista sobre escolhas e decisões que envolvem seu corpo, conheça seu ciclo.
W-LGBT

Cátia Alpedrinha

Fotógrafa e estudante.

Amante de viagens, cinema, luz e estética, livros, música e praia.

Mãe do Rodrigo e da Nair.

Photo by Cátia Alpedrinha

Photo by Cátia Alpedrinha

Photo by Cátia Alpedrinha

W-LGBT

Pablo Alles Romero

Soy sevillano y tengo 47 años.

Mi pasión es crear y lo hago a través de la escritura, el cine, la pintura, la tv y la música. Desde 2019 soy socio independiente de Ringana.

Durante más de 10 años he trabajado como terapeuta, ayudando a personas a encontrar la mejor versión de ellas mismas. Nuestra mente es una herramienta poderosa, si sabemos cómo utilizarla.
No hay una sensación más enriquecedora que ayudar a otras personas.

El Cuerpo

Cuando miro a una mujer puedo encontrar muchísimas diferencias con respecto a un hombre, con mi propio cuerpo.

La forma de su cuerpo, su cabello, su voz, la mirada misma, la forma de caminar, el silencio, la risa y el llanto es diferente físicamente.

Pero eso ès obvio, la aparente diferencia entre féminas y varones.

Diferencias apercibidas por la simple-vista que chequea la realidad a partir de un parpadeo limitante.

Pero esa acción sólo podría ajustarme como ser humano y limitaría mi foco con el engaño de la superficialidad.

El mayor atractivo está en la mente, en nuestros pensamientos, en la amplitud que generemos desde nuestro intelecto.

Esa limitación frena nuestra infinita apreciación ante aquello que vemos, aquello que observamos y el resultado de nuestro punto de vista.

De una persona me atrae la capacidad de observarse a sí misma, observar sus limites sin generar juicios.

De una persona me atrae su talento para observar su oxidación en el trayecto hacia su propio envejecimiento.

De una persona me atrae la virtud de reírse de sí misma, su sabia ignorancia.

De una persona me encanta la virtud de escribir con faltas de ortografía usando el corazón.

Y podría estar horas y horas, semanas y días describiendo cuáles son, en mi opinión, los verdaderos atributos que merecen ser admirados.

La clave en la seducción entre dos personas está en la escucha, no puedes enamorarte si no sabes escuchar.

La máxima potencialidad física se haya no-visible y es ahí donde el cuerpo encuentra su finalidad como sostén de la belleza, como soporte de la divinidad que atesoramos como humanos.

W-LGBT

Rosa Jiro

Aquí Rosa Jiro, nacida mujer sevillana en 1973.

Me apasiona ‘Jirar’ la vida de las personas, mostrarles otra forma de vivir, encontrando soluciones a todos los problemas.

En Ringana encontré el terreno fértil donde desplegar todos mis dones y ayudar a la Humanidad.

Por momentos, pienso

W-LGBT

Tita Valderrabano

91 anos

Mãe de 4, avó de 6, bisavó de 7.

Espanhola de nascimento e coração.

Amante da beleza.

Os jovens dão-nos a conhecer muitas coisas, aprendemos muito deles

Tita, em que ano nasceste e como foi a tua vida até te casares?

Nasci em 1930, em Palencia (Espanha), fiz os meus estudos num colégio católico, como era normal na época e, uma vez acabado o Liceu, fui para a Universidad Complutense, que ainda hoje existe em Madrid e que é uma das melhores.

O que é que estudaste?

Fiz Licenciatura em História da América Pré-Colombina porque isso dava-me a opção de poder trabalhar numa Embaixada Hispano-Americana, o meu objectivo era esse. Mas entretanto, conheci um português…

Antes disso, é importante contar que, ao teres nascido em 1930, passaste por momentos históricos importantes…

Passei pela Guerra Civil Espanhola, era muito pequenina, teria 6 anos.

Tens memórias da época da guerra?

Tenho, tenho muitas memórias. Uma delas, estava eu no colégio. Todas as tardes a nossa empregada ía-me buscar para me levar para casa. E, nesse dia, no caminho, começaram a tocar as sirenes… as sirenes que avisavam as pessoas para correrem a proteger-se nos abrigos. Acontece que nós não tínhamos tempo de chegar a nenhum… e então, esta empregada, que estava connosco há muitos anos, não fez mais nada senão deitar-me no chão e deitar-se por cima de mim para que as bombas não me atingissem (emociona-se)… desculpa, sempre que me lembro disto dá-me vontade de chorar porque acho que hoje em dia é raro alguém fazer uma coisa assim…

Graças a Deus, tudo correu bem e chegámos a casa, sãs e salvas. 

Naquele tempo vivíamos em Burgos, que era a capital nacionalista. Depois, quando já tinha 9 anos, fomos para Madrid.

Ao mesmo tempo, acontecia a Grande Guerra… tu contas sempre o choque que foi quando começaram a aparecer as fotografias dos campos de concentração…

Exacto. Quando Hitler morreu, eu lembro-me dos meus pais aflitos, porque não encontravam os meus irmãos. Estavam na Embaixada Alemã. A Embaixada tinha quilómetros de filas de gente a demonstrar a sua tristeza, imagina, porque para nós, os que éramos nacionalistas, os alemães eram um exemplo, era comum ter alemães a viver com as famílias, eu própria ao ser muito loira e com os olhos muito verdes, muitas vezes era considerada alemã.

Mas quando apareceram as fotos dos campos de concentração… que horror, não dava para acreditar… as primeiras que vi eram dos campos de Buchenwald, eram terríveis, aí é que Espanha caíu… tomámos consciência, percebemos todos o que afinal tinham feito os alemães.

Mais tarde, na Universidade conheces um rapaz português…

Sim, um rapaz português por quem me apaixonei perdidamente, e por quem dei um desgosto tremendo à minha família porque teria de ir viver para África e a família não imaginava que eu, uma rapariga citadina, que gostava de teatro, concertos, festas, poderia ir viver para ali… (risos)

Além disso, as viagens eram de barco, não havia telemóveis, nem telefones, era tudo por carta. Eu estive 4 anos sem voltar a Espanha… havia uma licença que concediam aos portugueses depois de alguns anos de serviço, que nos dava 6 meses de férias. Aproveitámos essa licença e lá fomos: foi muito emocionante, voltar depois de tanto tempo… lembro-me de passear pela Calle Princesa e chorar de emoção de tantas saudades.

Mas apesar do começo duro, nos 11 anos que lá viveram, acabaste por adorar África…

Sim, adorei África, porque a gente em África era muito boa. Conheci pessoas muito interessantes, como os padrinhos do teu irmão, pessoas muito especiais: ela era siberiana, ele húngaro, um grande caçador que tinha caçado o maior elefante de sempre, ainda hoje exposto em Washington. Foram para mim os pais que eu não tinha, que estavam longe, o que para mim foi muito duro. Mas a verdade é que se eu não tivesse lá vivido não teria conhecido pessoas como estas.

E depois disto, em 1964, foram-se embora e vieram para Portugal, mais concretamente para o Algarve…

Sim e aí foi muito pior que África: meio pequeno, bisbilhoteiro, tacanho, pouco culto, ao contrário das pessoas que tinha conhecido em Angola. A vida era pobre, ‘pequena’.

Vamos entrar no tema da revista deste mês: corpo. Tu que sempre foste uma mulher muito bonita, conta-nos a importância que tem a beleza para ti.

Há duas coisas extremamente importantes para mim: o amor e a beleza. Não me refiro à minha beleza mas à interior, a que enriquece as pessoas e as torna tão atraentes.

No entanto, tu que dás tanto valor a isso, numa foste obcecada com o corpo ou com a idade. Nunca estiveste à mercê das dietas e com 91 anos, nunca fizeste uma plástica…

Deus me livre! Não ia estragar aquilo que Deus me deu! Sou grata por aquilo que tenho, cada um é como é, todos temos o nosso encanto, acho sinceramente uma coisa ridícula, sobretudo quando se chega a uma certa idade, como há muitos casos… é ridículo ver uma mulher de quase 80 anos mais jovem que as filhas. Isso, nunca quis. Gosto de estar bem mas dentro da minha idade.

O que é que achas que é essencial para uma mulher se manter jovem integralmente?

A cultura, a leitura, a actualidade, viver a vida, viver o momento presente, para mim isso é o mais importante porque se uma pessoa não tem isto, se não se interessa por aquilo que se passa à sua volta, morre! Que faz uma pessoa que não lê, que não tem interesses, que não gosta de conhecer pessoas diferentes? As pessoas não têm que ser todas igualmente cultas ou igualmente profundas; mas há sempre alguma coisa que te podem dar.

Por exemplo eu sempre tive amigas mais novas… os jovens dão-nos a conhecer muitas coisas, aprendemos muito deles.. eles aprendem de nós, é certo, mas aprendemos muito deles e, hoje, muito mais. Apesar de eu ser totalmente incapaz com as tecnologias (risos)

Tens algum conselho que queiras dar às mulheres mais novas para chegarem aos 90 como tu chegaste?

Mantenham-se naturais. Todos somos bonitos, se soubermos tirar partido. Sejam boas para os outros, nada ódios, nada de raivas, somos todos seres humanos, com coisas boas e más, somos todos iguais.

Tenho uma última pergunta: chegaste a ser modelo para as carteiras Muu, com fotografias da Isabel Pinto, como aliás é esta do teu perfil. Como foi a experiência de ser modelo aos setenta e tal anos?

Foi muito divertido: andei de moto, fizeram-me milhões de fotografias, mudei de roupa imensas vezes, tirei fotografias contigo, como não podia gostar? (risos)

W-LGBT

Coming up

November, 28

#9 SHAME

find our previous issues on the top menu
and if you wish to share your story
or any comments, contact us at

design by FalcaoLucas

© womanity.world. All rights reserved