To be or not to be
is not the question.

April, 30

I was a mother at the exact moment I chose to be one.
I was a mother after travelling a lot, after investing immensely in my career, after having a hell of a great time with my beloved ones and friends. I was a mother at 32, and I was mother again at 44, when everybody was saying it might be too late. Yes, I decided when to be a mother, and I did it because I wanted so, at the moment I felt it was right for me and my partners (I was married twice).

Not every woman feels free to do this, but we all feel in our skins and bones the pressure of very opposite messages. There is the pressure of having to be a Mother as if it was critical to define us as a woman. Funny enough, accusing fingers point directly at all of those who are or have the desire to be a mother, too. Let’s thing about work: how many women in this world are still discriminated for wanting or having children? How many postpone that decision for being afraid of being fired or rejected? Let’s think about relationships: how many women cope with unbearable marriages because they fear being alone with their kids? How many repress their wish because society says you need a father for it? How many project in their children what they didn’t accomplish, thus falling in depression after they have gone?

To be or not to be a mother is not the question. The question is: do you want it? It’s an option, not an obligation. It’s a responsibility, a full time job that you cannot (or should not) abandon.

No woman must feel compelled to be a mother because, the fact is: we’re all mothers. 

We are mothers every time we offer a creation to this world.

We are mothers whenever we take good care of others.

And we are brave mothers when we choose not to be.

Alexandra Quadros

Ana Moreno

Bailarina, intérprete, professora de dança e Coreógrafa.

Curiosa e observadora, apaixonada pela natureza. 

A minha fórmula para a felicidade: estimular o lado criativo sempre! É uma necessidade fisiológica. 

Metamorfosear

Danço desde que me lembro… O movimento é minha língua materna, o ponto de nascimento da minha identidade, um instrumento instintivo.

O principal prazer da Dança, para mim, vem pela espetacularidade da surpresa oferecida pelo Corpo. A arte coreográfica é a celebração dos gestos e é por isso que esta arte se destaca de outras atividades motoras, por desafiar e estimular o imaginário de outrem utilizando o corpo, a expressão coreográfica e sonoplástica, aliciando desta forma o público, induzindo-o numa viagem extrassensorial e de reflexão. 

Ao longo da minha jornada como bailarina/intérprete e por ter o privilégio de dançar peças de coreógrafos excecionais, a adrenalina dos holofotes transmutou à medida que a curiosidade pela composição se materializava. A criação coreográfica é a minha mais recente paixão e o Solo LIZARD nasceu desta preparação da dimensão da palavra e da imagem, no corpo humano enquanto lagarto. 

Os lagartos sempre me fascinaram e recentemente isso despoletou um estímulo concreto para desenvolver uma pesquisa física animalesca, representativa, expressiva, e teórica sobre estes animais. O que mais me impressiona? O papel que a vulnerabilidade representa neles; a repulsa que provocam aos humanos e em si próprios ao verem-se nos olhos deles; a inevitabilidade da sua existência, tanto para a sua sobrevivência como para a sua resiliência. 

O tipo de dança que fazem, inconscientes da sua beleza, das suas linhas singelas, e finalmente a turbulência e a inquietude das suas vidas, que o seu espírito acarretam. 

Esta criação coreográfica é um solo que vive da sinceridade de um corpo expressivo da vulnerabilidade grotesca, versátil e cheia de mecanismos engenhosos de defesa e de diálogo; de uma apropriação das características mais lindas e asquerosas deste animal, todas elas belas na sua forma.

Coreografar é ter o privilégio de ser claro e articulado sem a necessidade de explicar, estou a amar descobrir o grande nível de intimidade que posso alcançar num processo de criação comigo mesma – Coreografar permite o prazer de trabalhar com tempo: semear a ideia, incubá-la observando-a calmamente, vendo crescer o seu potencial e compartilhar, aprender e perceber que não posso e não devo apaixonar-me pelo meu trabalho, mas posso ficar entusiasmada e comovida até as lágrimas de o poder oferecer ao mundo.

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Veja aqui o video da Ana

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Gabriela Sobral

Directora e Produtora de Conteúdos

Inês Herédia

Actriz

Duas raparigas com dois rapazes

Expliquem-nos quem são e o que fazem

[INÊS]

Sou um desassossego, acho que é a palavra que me define melhor. Quanto ao que faço, tento fazer tudo o que me dá prazer; sou atriz e sou a mais feliz do mundo a ser todas que não eu; sou mãe e sou a mais feliz do mundo nos braços dos meus filhos; e sou uma peça num puzzle gigante que é a minha família, tanto os de sangue como os amigos.

[GABRIELA]

Sou uma mulher de 55 anos casada, em pleno estado de gratidão com vida, mãe de dois rapazes gémeos encantadores, tenho uma família de amigas leais e estimulantes, feminista e diretora de uma empresa que produz conteúdos.

Duas mulheres que se amam decidem ter filhos. Foi fácil tomar essa decisão?

Não há um momento em que se toma uma decisão destas, a vontade de ter filhos era mútua e foi fazendo cada vez mais sentido à medida que a nossa relação foi solidificando. Não há diferença para um casal heterossexual, o processo enquanto casal é o mesmo. Sentimos as duas que estava na altura de começar a tentar, sem pressões e sem pressas e quando aconteceu, foi a maior alegria, fez todo o sentido e veio completar aquilo que já nos sentíamos: uma família.

Tinham expectativas quanto ao sexo ou era mais 'seja o que for, daremos as boas vindas'?

Era muito na base do seja o que for, mas inicialmente achávamos as duas que íamos ter uma rapariga, saíram dois rapazes 😂. É muito interessante assistir de dentro a esse processo, analisares o que te faz esperar uma rapariga ou um rapaz e receberes aqueles que o teu corpo decide. Nada foi como esperámos, passámos de esperar uma rapariga, para esperarmos dois bebés, para esperarmos um rapaz e uma rapariga, e no fim serem os nossos dois rapazes. No momento em que tivemos a confirmação de quem eles eram, instalou-se uma certeza absoluta de que eram eles. Foram amados desde o primeiro segundo.

E, ao terceiro mês de gravidez, descobrem que são gémeos e rapazes. Qual foi a vossa reacção?

Eu (Inês) sempre disse (desde miúda) que sabia que ia ter gémeos, embora não houvesse predisposição genética para isso. Disse-o várias vezes à Gaby e ela ria-se, nunca me levou muito a sério 😂

Quando fomos à 1.ª ecografia sabíamos que só podia ser um (por causa do tamanho dos folicúlos que eu tinha produzido) mas de repente eram dois. A médica congelou, eu perguntei o que se passava e ela responde: são dois. Desatámos as duas a chorar, a Gaby não queria acreditar e eu só dizia: eu sabia, eu sabia!!!!

Considerando que são duas mulheres defensoras do feminismo, como vêem a ironia e a responsabilidade de educarem dois rapazes?

Apesar de ser uma tremenda ironia, sabemos que a nossa missão é muito importante. É mais fácil educar raparigas conscientes e defensoras das causas feministas, por uma simples razão: são mulheres, irão sentir tudo na pele. Os homens não, não sentem o que nós sentimos na pele; e por isso só lá chegam se forem seres sensíveis, inteligentes, atentos e acima de tudo com capacidade para sair do ponto de vista do privilégio que adquiriram apenas por nascerem homens. Sentimos uma enorme responsabilidade mas muito positiva, de termos oportunidade de formar pelo menos dois dos homens que vão fazer parte de uma geração que se quer cada vez mais aberta, consciente e tolerante.

Que tipo de valores lhes querem passar?

Que sejam tolerantes acima de tudo. Acreditamos que a tolerância e o respeito são a base de tudo o que nos faz mais feliz e do que faz mais feliz quem está à nossa volta. Sonhamos que sejam assertivos mas respeitadores; que não tenham medo de pensar por eles, de questionar, de errar; que sejam atentos e generosos, que valorizem a família como nós valorizamos; e que sejam leais, que sejam amigos e verdadeiros. A lealdade é dos valores mais raros na sociedade em que vivemos.

Acham que conseguirão ser imunes a todos os hábitos ancestrais que distinguiram a educação das raparigas e dos rapazes?

[GABRIELA]

Quero acreditar que hoje sou imune a isso tudo, embora a sociedade onde eles vivam ainda não seja. Gostaria de ver dois homens felizes, livres e sábios.

[INÊS]

Acho que responder que sim a esta pergunta é perigoso. Há hábitos que estão demasiado enraizados em nós. Vivemos, porém, na certeza de que o tema nunca será estanque dentro das nossas cabeças, que somos seres em evolução é que os educaremos sempre da forma que acharmos ser a melhor para eles, para que sejam felizes e livres.

Se eu vos pedisse para imaginarem o Tomás e o Luís com 30 anos, o que gostariam de ver?

[GABRIELA]

Acreditar que duas andorinhas podem mudar para sempre a primavera, é simplesmente maravilhoso. Serem homens com consciência política, defensores da igualdade de género, da defesa das minorias contra o preconceito, serem homens livres para poderem amar e viver de acordo com as suas convicções e preferências não abdicando dos valores morais, serem íntegros, honestos, mas acima de tudo serem felizes.

[INÊS]

A rir. Os dois super amigos, não negamos uma vontade louca em ter netos 😂 mas que acima de tudo nunca se larguem um ao outro, nunca nos larguem a nós e felizes, cheios de saúde.

Mais alguma mensagem/ideia/experiência que gostassem de partilhar?

Somos as mais sortudas do mundo. Temos muito presente que os nossos filhos são tanto para além do que sempre sonhámos, que vivemos em gratidão por eles. E é tão bom viver assim.

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Maria da Graça Leal

Mãe de 5
Avó de muitos
Arquitecta de coração
Muitas outras coisas numa só vida
Muitas vidas bem vividas sem nunca olhar para trás

Não somos ricos, somos muitos

Ouça a Graça aqui

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"Eu acho que uma pessoa pode ser mãe ou não, consoante lhe dá na real gana."

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Jacqueline De Montaigne

Painter & muralist

Dip Psych, Dip medical ethics 

Avid activist/IBFAN & WBTI

Zoology & biology enthusiast

Book addict 

Mother as Nature

by Jacqueline De Montaigne

Não dependas

de terceiros para
concretizares sonhos

ou seres feliz

Inês Fontoura

Communication Expert com alguma experiência na indústria da moda e cosmética. 

Disruptiva, rules breaker e mãe independente. 

Amante da natureza, da simplicidade, do pé descalço com valores pessoais fortes e não negociáveis.

Photos by Coelho Photos

Veja aqui o video da Inês

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Marcela Forjaz

Mãe de três, quase avó

Autora

Médica

Ginecologista/Obstetra mas fiel ao seu princípio de que a mulher é um todo, complexo e belo (por isso intromete-se na vida de todas)

Eterna aprendiz

Uma infância em Moçambique que deixou um inprint indelével

Mãe

Prólogo

Como escrever sobre “mãe”? Começar por onde? As ideias, completamente díspares, fluem, atropelam-se na minha cabeça, de repente tudo parece caber no conceito “mãe”! 

O irónico da questão é que sendo “mãe de três” poderia simplesmente passar a um exercício de reflexão e partilhar o meu nascimento como mãe, o meu trajecto, as dificuldades e os momentos tão gratificantes que a maternidade proporciona, o impacto na vida profissional , o sermos vistas como menos disponíveis para o trabalho e a necessidade que cria de nos tornarmos melhores do que os melhores, melhores do que nós próprias já éramos…Explicar como um dia percebemos que ser mãe  representa também o nosso crescimento enquanto mulheres, que nos proporciona a capacidade de amar numa dimensão inimaginável, …Mas “mãe” é ainda muito mais do que tudo isso:

Mãe I

Fecunda, brinda-nos com uma imensidão de tons, sons, cheiros. Generosa, proporciona-nos  experiências infindáveis de sensações, conhecimentos, possibilidade de relacionamento com tantos outros..! Sábia, cede-nos condições para crescermos, ensina-nos o respeito, o equilíbrio, mostra-nos que atitudes correctas conduzem à sustentabilidade e que o oposto pode conduzir a um caminho difícil de reverter e com consequências que podem ser letais. Tolerante, dá-nos segundas oportunidades, dá-nos tempo e mantem a esperança de que façamos a correcção ao nosso rumo e que compreendamos que o respeito pela diversidade faz parte de uma sobrevivência sã. Confiante, entrega-se-nos para que possamos testemunhar o conhecimento e amor que nos legou. A Terra-Mãe.

Mãe II

Serpenteia, ágil, e corre entre os obstáculos, ultrapassa-os. No seu movimento cresce, traz vida, torna fértil os terrenos por onde passa. Molda caminhos, refresca, supre e conforta. Nasce humilde e engrandece  no seu percurso em força e dimensão. Torna-se poderosa e invencível, ora tranquila ora tumultuosa, transparente e calma ou revolta e poderosa. Berço da vida. A Mãe-Água.

Photo by Bruno Barata @bbaratafotografia

Mãe III

Caminha lentamente mas determinada, as cores garridas da capulana denunciando o hemisfério no seu ventre, onde passa a mão de vez em quando, suspendendo por instantes o passo e cerrando os olhos. Balança um pouco, sem avançar, meneando as cadeiras e, com esse movimento, balança também a ponta de uma cabecita que mal se vislumbra por cima do ombro. Atada às costas está outra capulana e nela, acomodado como que num outro ventre materno, uma criança pequena dorme profundamente, embalado pelos passos da “mamana”. Retoma a caminhada, ao mesmo ritmo, regular, constante, até à próxima dor. Os pés secos e cheios de poeira, enfiados numas chinelas gastas, denunciam um caminho longo em terra batida. Chega finalmente a uma palhota onde uma mulher mais velha a recebe à entrada com um sorriso que lhe acentua as rugas profundas, batendo as mãos de contentamento. Dá umas ordens rápidas aos miúdos que ali brincavam por perto e que debandam e ambas desaparecem no interior, onde se lhes juntam mais tarde outras duas mulheres, uma entrando com um alguidar com água equilibrado na cabeça e uma trouxa de panos nas mãos. O dia termina em tons laranja, sussurros, cantares  e gemidos. Finalmente, um grito de dor e de alívio rasga a noite morna e quieta, e irrompe um choro de bebé! Mãe-tradição

Photo by Bruno Barata @bbaratafotografia

Mãe IV

As lágrimas deslizam silenciosas pela face, molham-lhe os lábios, salgadas, mas na quietude da dor não pensa sequer em limpá-las. As pessoas são todas simpáticas, carinhosas até… e encaminham-na para um quarto explicando-lhe os procedimentos. Tão calma quanto possível, instala-se na cama imaculada, obediente estica o braço para que lhe ponham um soro, para que se inicie o processo. Sabe que terá dores, que terá de dar à luz aquele filho que partiu sem que o pudesse embalar ao colo. Começam as dores e vêm aplicar-lhe uma técnica anestésica para que não sofra. Só não fazem ideia do sofrimento que vai no seu peito, tão maior do que o que lhe aperta o ventre para que o seu filho nasça! Parece-lhe ainda uma realidade que não é a sua…como aceitar que um filho nasça,  sem qualquer chama de vida, como compreender que um início de vida é afinal a constatação de uma partida sem qualquer sopro anímico?!  Como consolar-se a si, como consolar os outros? Ao longe ouve o choro de crianças, o bater de corações nos aparelhos que vigiam os bebés das outras mulheres… 

E finalmente nasce. A sala em silêncio. Uma voz que o interrompe perguntando se o quer ver. Sim, quer ver, quer guardar para sempre os seus traços. Pega-lhe, encosta-o ao seu peito. Se ao menos pudesse fazê-lo voltar à vida..! Inunda-o de ternura com um amor incomensurável e sofrido, despede-se e entrega-o com um olhar fugidio num sorriso triste, a alguém que o recebe; com ele vai uma parte do seu coração. Sabe que só não vai todo o coração porque este é agora uma rocha pesada que lhe esmaga o peito, o corpo, a alma. Sabe que vai ter de revitalizar o seu coração, para confortar o outro filho quando este perguntar pelo irmão; para confortar os avós que choram o neto e o desgosto da filha, para confortar o pai que não sabe como a confortar a ela. Explicará depois ao filho como o irmão os olha do céu e lhes sorri com um sorriso que nunca viu mas que um dia será capaz de imaginar. Arrumará, em casa, as coisas que eram para esse bebé. Voltará ao trabalho e sorrirá quando ouvir as breves palavras de encorajamento, e estará à altura quando exigirem dela todo o empenho e profissionalismo a que estavam habituados. Porque para todos a vida continua e ela providenciará para que, mesmo sentindo-se amputada, assim seja. Mãe-coragem. 

Mãe V

Jurou um dia a si própria que não repetiria mais a palavra “despacha-te” aos filhos.  Foi num dia igual a tantos outros, em que na correria matinal para que todos chegassem a horas, quase todas as acções eram acompanhadas de um “vá, despacha-te”, “rápido”…e tudo tinha de se fazer sem pausas: vestir, comer, lavar os dentes, vestir o casaco, entrar no carro…! Chega, concluíra. “Eu estou com pressa mas eles não precisam de perceber já isso, não precisam de interiorizar a corrida que esta vida é!”. E decidiu ali que nunca mais apressaria os filhos e cumpriu. Organizou-se ainda mais e conseguia que tudo se fizesse de forma ágil e ininterrupta, mas recorrendo a pequenas ajudas na hora em que eram necessárias, como estender um casaco em vez do velho “veste isto depressa”. 

Assim as saídas de casa aconteciam calmas e descontraídas, deixava-os a horas nas escolas e seguia para o hospital muito mais bem disposta, mesmo que estivesse em cima da hora.

Os serviços de urgência de 12  ou 24h requeriam um planeamento ainda mais acurado para que nada falhasse na sua ausência: desde a preparação das roupas que vestiriam, às mochilas para as actividades desportivas, o cumprimento das tarefas escolares, as refeições… e não era raro chegar tarde e cansada de uma urgência e ter ainda de resolver alguma questão crítica…como a fantasia para o desfile de carnaval do dia seguinte! Uma vez, não tendo nada, vestiu o filho de azul escuro, pintou-lhe a pele de azul, colou-lhe estrelas de papel na roupa, desenhou uma estrela na cara e uma lua no cabelo. Ele confiou. Quando começou a ver-se ficar azul,  ainda perguntou de que estava mascarado; de noite, claro, respondeu-lhe  com prontidão. E a “noite” ganhou o desfile!

Entre horas de cirurgias, consultas, congressos e discussões curriculares, sabia os nomes dos amigos dos filhos, conhecia muitas das mães, repreendia-os nas asneiras, apoiava-os nos desgostos, ajudava-os nos trabalhos quando os via assoberbados “desde que não fosse por falta de empenho”, mas pregava-lhes também partidas. Respondia aos porquês, punha-os a ouvir música clássica inventando histórias ao som dos acordes, mas era também exigente. Que nunca se falasse algo que não a verdade, que se tratasse os outros com respeito e consideração e que se tratasse primeiro do dever e depois do lazer eram algumas das máximas que procurava transmitir. Que assumissem as suas decisões e falassem sempre directamente com as pessoas envolvidas. Como quando a filha quis deixar de nadar. Depois de ouvidas as razões concordou, mas teria de ser ela a falar com a intimidante treinadora russa. Não deixaria simplesmente de aparecer, não iria pelo caminho mais fácil.  Queria fazer deles adultos íntegros, confiáveis , solidários e felizes. O que todas as mães querem. Mãe-multifunções

Mãe VI

Ambiente acolhedor, luz baixa, uma música suave. As respirações controladas,…já se vê o cabelinho, diz-se que o bebé está nas cortesias: aparece um pouco, recua, aparece de novo… Encorajo a grávida. “está quase, só mais um pequeno esfoço!” . Enche-se de vigor e tal é a vontade de ver o seu filho que num suspiro sentido o faz finalmente aparecer no exterior! Amparo-lhe a cabeça, conduzindo-o para fora e exorto-a a que venha fazer o seu filho nascer: as suas mãos , hesitantes, agarram nele e gentilmente puxam-no para o seu peito! E assim ficam, como se toda a vida tivessem estado abraçados ( e estiveram!), enamorados, ternurentos… Ao fim de uns minutos o pai é convidado a cortar o cordão, se tiver vontade. Acede, comovido. Os três estão noutra realidade. Uma realidade cheia da hormona do amor, força motriz daquele início de vida. O recém nascido olha atento, alerta mas tranquilo. O calor do peito da mãe é suficiente para o manter quente e confortável. Dali a pouco iniciará movimentos para chegar ao mamilo e começar a mamar. Na mãe, operam-se transformações hormonais que lhe permitirão amamentar o seu filho.  Mas entretanto, vivendo o momento sem pressas, apenas se contemplam e se amam. 

Não é relevante se são 4h da manhã e a equipa está nas últimas horas de um turno cansativo. Todos vibraram com o parto, estão felizes, realizados, sorrindo com os olhos húmidos. Que bom, que ao fim de centenas, milhares de partos, ainda se comovem desta forma. Que bom, terem a percepção que estarem presentes nestes momentos de nascimento, vivenciarem estas emoções, é por si só uma bênção. Também para a equipa bastava, como diz o poeta referindo-se ao seu nascimento, “toda a ternura que olhava no olhar de minha mãe”.  Mãe- dádiva

Epílogo

Mãe, é o refúgio, é onde moramos. Mesmo que o cordão que nos liga nunca nos tenha cedido nutrientes e oxigénio e seja um cordão de energia e afectos, mesmo que o nosso DNA não se assemelhe sequer ao seu…se é a Mãe, é o nosso porto seguro. 

Há mães que nunca pariram. Diria que todas as mulheres em alguma altura da sua vida experimentam ser mães. Mãe da velhota que vive sozinha no andar de cima; mãe daquele colega de escritório tão cheio de problemas; “mãe” daquele aluno que trata do irmão mais novo e da avó, enquanto a sua mãe trabalha até à exaustão; mãe da amiga que precisa de desabafar;  mãe da sua mãe que enviuvou e que se sente só…

Se mãe tem uma vertente bioquímica e hormonal – e tem! – , todas as mulheres acabarão por vivenciá-la em algum momento, em algum grau, inundando-se desse elixir como acontece num momento de parto. E sentir-se-ão ligadas a alguém, tanto como estamos ligados à Terra ou como precisamos de água para viver!

Mãe é quem excede os seus limites, vai encontrar energia onde nem se sonha que existe, para nos apoiar. Mãe é a que nos critica mas aponta um alternativa e faz-nos acreditar que seremos capazes; é a que nos aceita incondicionalmente nos nossos erros, nas nossas fraquezas mas nos conduz  por um caminho que mesmo que difícil resgatará esses erros. Mãe é a que mesmo longe, se faz perto. E quando perto, se for preciso faz-se invisível. Ou acolhe-nos com todo o seu calor. Ou nos dá ânimo para que partamos. Mãe é protecção, educação, dedicação; mãe é calor, respeito,  exemplo. É a prova da capacidade de exercer vários papeis, várias funções, sem deixar nada para trás. Por um filho caminha quilómetros, lavra a terra,  amassa o pão, mas também por um filho, por todos os filhos, toma decisões, orienta nações. Generosa e fecunda como a Terra; poderosa e invencível como a Água.

Mãe é amor infinito.

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#3 Right

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