June 24, 2022: in the USA, the Supreme Court overturns Roe v. Wade, ending 50 years of federal abortion rights.
It is sadly ironical that in the same month that we launch an edition dedicated to the subject of POWER, the world sees it removed from the American women.
I thought of many things to be written on this very specific editorial, but the truth is these news profoundly disturbed me: how can you write about power and empowering women when you see a country like the US, allegedly the land of the free, the land of opportunities, the ‘American Dream’, go back decades in time and, the (bad) icing on the cake, a country again divided in two, with women of all ages supporting that decision?
Are they fully aware of what this means? Are they fully aware that the same who’ve agreed upon this will probably agree upon other aspects that will restrain women’s rights even more? Are they conscious of how the lack of choice is a way for disempowerment?
For this issue’s Rewire section we have selected 9 articles that may give you a full perspective on the subject. And I would like to end this rather raw editorial with our source of inspiration, even in weird times like these: the stories shared by our contributors. This is an issue we prepared even more carefully: we wanted women from all ages to talk about what POWER means to them. We managed to have children, young women, adults, all talking about their idea of power… or the lack of it.
Go through them all and, if you can, live us a comment, your own idea of POWER. Remember: sharing is empowering. Always.
PS: And because we want you to experience POWER fully, another giveaway is on its way. Stay with us on Instagram, we will announce it there.
Sócia Gerente da Comida Independente
Activista
Forward thinker
Não se leva demasiado a sério
Naquele sábado de manhã tinha um transporte de equipamento para a futura loja da Comida Independente na Comporta. O mercado de produtores na Praça de São Paulo acontecia, como todos os sábados, e havia que desenhar o ‘layout’ das bancas, garantir que a limpeza urbana tinha deixado tudo impecável, que os novos produtores sabiam onde ir e o que tinham que fazer, que o Instagram anunciava as novidades do dia e que tudo estava em boas mãos na casa-mãe (a Comida Independente, em Lisboa). Antes de sair de casa para mais um dia que prometia ser longo, vesti a primeira coisa que apareceu no armário e atirei com um casaco e um cachecol para dentro do carro. Estávamos em Janeiro!
Também tinha uma entrevista marcada com o Financial Times, que estava em Lisboa a propósito da abertura do novo restaurante do Nuno Mendes em Londres. Foi o pretexto para o Nuno percorrer a cidade com a equipa do Lisboeta, assim se chama o restaurante. Como sempre embrenhámo-nos na conversa, que pusemos em dia – a viagem da pandemia, o porquê do ‘great resignation’, a identidade de Portugal no mundo, com e sem turismo, a sua psicanálise e autoestima. O Mercado de Produtores foi seguido pelo Nuno à distância. Ao FT expliquei que foi uma daquelas iniciativas raras em que todos conspiraram para o sucesso de um bem comum: a Junta de Freguesia, os produtores, o bairro, os jornalistas, os clientes. Mais do que as trocas de produtos que ali se fizeram, foram trocas de notícias e de afectos. Foi e é, ainda, um fenómeno que levanta questões económicas, ecológicas e sociais ligadas à alimentação. Agora já sem máscara.
Há uma parte dos bastidores desta história que não é conhecida, mas que aqui serve um propósito: em plena pandemia tive um cancro na mama. Depois da cirurgia não pude fazer fisioterapia, estavam os centros terapêuticos fechados e os ginásios também. Engordei bastante. O meu cabelo, com os cabeleireiros também fechados, estava grisalho. Depois veio o tratamento hormonal, o mais difícil de todo este percurso.
Fiquei infeliz? Nem pensar. Tenho amor, amizades e cumplicidades na minha vida que são inabaláveis antídotos à infelicidade. E se meio mundo estava fechado em casa, sem saber o que fazer à vida e às contas para pagar, fui à luta e fiz acontecer o mercado de São Paulo. Mas dias mais tarde, olhando para o artigo escrito no FT, não era a minha fotografia que lá estava. Terá havido mil razões para esta escolha – o fundo de cor, as afinidades do Nuno, se uma foto estava ao alto, se estava ao baixo – tenho experiência suficiente nestas matérias para não me melindrar, mas pensei “não estou a ajudar”.
Mandei uma mensagem ao meu cabeleireiro “Estou pronta. Depois te conto tudo.” Já tinha sido discutido, marcado, desmarcado. Antes, não queria que olhassem para mim. A minha imagem era secundária perante todos os desafios a que me propus. Num documentário sobre a poeta Natália Correia há o testemunho de um amigo que fala de como ela ficou aliviada quando deixou de ser tão bonita e desejada. Identifiquei muito bem este sentimento. Focar no que é importante.
Conto esta história a propósito do poder no feminino, não por ser uma história de cabelos, mas porque quero mostrar que quando identificamos que alguma coisa nos está a retirar poder, nos cabe a nós recuperá-lo. O poder de nos apresentarmos com confiança, de nos expressarmos, de sermos ouvidos.
O mais precioso que podemos construir são relações cúmplices, como a que tenho com o Patrick, o meu cabeleireiro. Já me viu magra e gorda, grávida, gira, executiva, mais rica e mais pobre. Sempre exigente, sempre a puxar por mim. Pintei o cabelo de louro platinado. Não resolveu tudo, mas ajudou.
Se nos virmos como vítimas, nunca mudamos o discurso. Há que tomar os problemas nas mãos e enfrentá-los, encontrar formas engenhosas, inteligentes, sensíveis, de resolve-los. Só assim agarramos a oportunidade de desenhar a nossa história.
Lá em casa temos um hábito nas muitas discussões acesas sobre variados tópicos, e que é pedir ao interlocutor para definir o conceito em discussão. Por exemplo: as mulheres são discriminadas. Define “discriminação”. O capitalismo falhou. Define “capitalismo”. É um bom exercício.
Este texto é sobre o poder. Define “poder”. Quem é mais poderoso? Putin ou Michelle Obama? O poder da conquista e do domínio, ou o poder de influenciar e mobilizar? O poder formal ou o poder informal? O que é mais transformador? Mais eficaz? E que novas formas de poder, mas também de abuso, corrupção e manipulação surgem na era do ‘social media’ e do ‘cancel culture’. Se queremos ser admirados e “gostados”, quem tem realmente poder, cada um, ou a massa anónima que o escrutina e condiciona?
A análise do poder e de como socialmente vivemos as relações de poder é das mais reveladoras de cada momento da história, das que mais nos distingue entre culturas e acredito que determina em grande parte o destino das nações.
E perante este cenário, decido contar um problema de primeiro mundo, em que alguém não apareceu numa fotografia e decidiu ir ao cabeleireiro?! Pois eu vivo rodeada de exemplos muito reais, do mundo concreto, de mulheres que todos os dias mostraram o melhor lado do poder. E garanto-vos que a lista já vai longa.
A história do cabelo é uma história verdadeira, da minha realidade, e é só uma história que reflecte sobre onde tudo começa. Começa em nós. Dentro de nós.
43 anos, energética, bem-disposta e minuciosa.
Overthinker e day dreamer assumida.
Contagiada por todas as formas de alegria, beleza e elegância.
Fui bailarina de corpo e alma até onde a vida me deixou ir.
“Mãe” de novos negócios de produtos e serviços.
Mãe do Vicente, um menino destemido e muito alegre que me desafia todos os dias a ser uma melhor Mulher.
Porque não sou uma pessoa de grandes “escritas”, para ajudar a iniciar este testemunho, fui “às raízes da língua” procurar no dicionário a definição de PODER e encontrei: substantivo masculino, singular, primitivo e abstrato.
Foi interessante realizar que todas nós, inconscientemente, poderemos pensar e aceitar que “poder” é “masculino”, e não “feminino”. Percebi ainda que esta classificação de substantivo masculino poderia ter incluída uma camada invisível que associa o poder, associa a força, o domínio, a determinação ao tom e estilo masculinos.
Há vários tipos de poder. Poder financeiro, poder espiritual, poder físico, poder de influência, etc. Acredito que o verdadeiro poder é o que está “cá dentro”, o que define os nossos gestos, as nossas decisões, o que se emana, o que contagia. O poder a cada escolha de roupa ou acessório mais exuberante. O poder que está connosco em cada reunião de trabalho e que nos faz “vender” melhor uma ideia ou projeto, ou até nós mesmas. O poder que nos elucida e dá força em momentos de crise, quando temos de ter a lucidez para definir as prioridades e conciliar trabalho, família, filhos, casa, e mais alguma coisa que surja num mesmo dia.
Fui mãe tarde, já um pouco sem contar. Sempre soube que a maternidade iria transformar irremediavelmente a minha vida. Só não sabia que a maternidade iria também mudar-me a mim, a minha identidade, a minha forma de estar e de pensar, pela forma como o meu “poder” foi substituído por outro tipo de poder, um poder para outra pessoa/filho e não para mim mesma.
Admito que o impacto da maternidade seja intenso para todas as mulheres, mas também admito que seja maior para quem gosta de si, para quem gosta da sua vida. Para quem tem projetos e ambições bem definidas, para quem vive bem nas suas incertezas ou decisões espontâneas, para quem acha que tem sempre falta de tempo para fazer tudo o que quer, para quem vive dentro de si, e para si, com autenticidade legítima não sendo por isso menos generosa ou egoísta. De alguma forma percebi que a maternidade seria agridoce para mim, porque, assim como o poder, a maternidade também é singular, primitiva, abstrata…. Mas feminina!
Constatei que a maternidade feminina e o poder masculino não casam assim tão bem. Ainda hoje vivo dias de luta. Luta entre o que eu era de forma primitiva e singular, e no que me tornei de forma comum e com muita previsibilidade associada. Uma luta silenciosa onde um desabafo sobre a vontade de voltar ao que era, junto de uma audiência mais conservadora, é julgado com o rótulo de “má mãe” ou com o comentário condescende de “melhora com o passar dos anos”. Não se abdica do tempo em si porque dormimos menos ou temos mais tarefas caseiras, abdica-se de tudo o que o “nosso” tempo representa. No meu caso, um exemplo simples, perdi as minhas corridas, (que eram sem dúvida uma das materializações do meu poder), perdi o tempo para falar despreocupadamente horas a fio com amigas, perdi o tempo que me permitia continuar a ser eu mesma, e não simplesmente uma “mãe”.
Procurando não generalizar, mas generalizando, parece-me certo que ter filhos é muito mais exigente para as mulheres do que para os homens. Já para não falar do período da gestação, são as mulheres que cuidam dos bebés, são as mulheres que cuidam das casas, são as mulheres que cuidam da família, são as mulheres que cuidam das relações. São as mulheres que são geneticamente preocupadas, sofrem por antecipação e sofrem pelos filhos, são sensíveis aos detalhes e têm brio, não apenas orgulho, mas sentimento de nobreza nos filhos, na casa, na família e na sua imagem. Por ser assim, e por uma educação de matriarcado ainda muito presente em algumas sociedades, assumem inúmeras tarefas e responsabilidades de forma absoluta e emocionalmente desproporcional quando comparado com os homens.
Quando fui mãe comecei a seguir novas páginas nas redes sociais, e entrei num mundo da perfeição e exigência, onde vi mulheres a conseguirem ser “supermulheres” e a promoverem as mil e uma coisas que conseguem fazer num mesmo dia, e sempre de cabelo arranjado e manicure feita. Não consegui ter a ambição de querer fazer igual, e acabei por sentir uma enorme frustração de não ter aquela alegria ou sentimento de realização por conseguir ser uma mãe extremosa, e uma mulher divertida e sofisticada, ou ainda uma pessoa bem resolvida. 3 em um. Não, todos em um! Acredito que socialmente, seja no próprio ambiente familiar ou em redes sociais, promove-se mais este tipo de referências, que com ou sem ajudas e com mais ou menos orçamento conseguem fazer tudo, do que se estimula a individualidade e liberdade de escolha de cada mulher em relação à forma como se relaciona com a maternidade, com a sua vida pessoal e com a sua identidade. Não consegui deixar de sentir incompetência por não conseguir fazer mais nada bem, fosse no trabalho ou em casa, senti culpa por continuar a desejar ter momentos meus, quando tinha agora ‘algo tão precioso como um filho’. Senti necessidade de encaixar-me no novo rótulo que a maternidade me conferia. No entanto, a própria necessidade de fazer parte de um novo “grupo”, a necessidade de aceitação, era já um prenúncio de que algo nesta nova forma de vida não me assentava.
Não vou dizer que tive uma epifania e que virei o meu mundo porque não é verdade. Como mulher normal que sou, não posso deixar de trabalhar ou mudar de vida radicalmente. Como mulher normal que sou, mesmo que tivesse mais ajuda logística/domestica, provavelmente não conseguiria delegar o meu filho em outras pessoas. Mas como mulher com o “substantivo masculino, singular, primitivo e abstrato”, tenho de ser mais exigente, mais ambiciosa, e não sucumbir à facilidade de viver uma vida que não me realiza totalmente por me tornar simplesmente uma “mãe” nos próximos anos em que o meu filho ainda irá precisar muito de mim. São ainda muitos anos pela frente, esperar pelo momento da sua autonomia é correr o enorme risco de não mais ter “bilhete de volta” para a minha vida e para o que eu era. Esperar anos pelo momento em que um filho “voa”, a achar que retomamos o ponto onde ficamos à data de nascimento, parece-me um total desperdício de oportunidade e de vida.
Curiosamente, quando inicio o meu caminho de “volta”, tropeço em histórias de outras mulheres com as mesmas lutas. Afinal, vejo que há mais histórias como a minha, mas poucas são as mulheres que o assumem em voz alta. Vejo que eu não sou a única, vejo que há afinal muitas mulheres com as mesmas lutas secretas e sentimentos de culpa vãos por acharem que um nível de dedicação aos filhos inferior a 100% fará delas menos boas mães, quando, a meu ver, é precisamente ao contrário. Por este motivo, é importante falar do que se pensa e se sente, sem culpa e sem medo de ser classificada como “má mãe”. É importante aceitar que há mulheres que têm a possibilidade e fizeram a escolha de ser mães a tempo inteiro, como projeto de vida, mas que há também mulheres, eu diria que a maioria, que por falta de possibilidade dessa escolha ou por falta de vontade em fazer essa escolha, não são menos boas mães ou mulheres menos bem-sucedidas.
Eu acredito que ser mulher é muito mais do que ser mãe. Admito que seja perturbante para algumas pessoas e mulheres ler esta frase (muitas vezes acho que nós mulheres somos as piores amigas de nós mesmas e de outras mulheres), mas acredito que ser mulher é existir em várias esferas pessoais, sociais, relacionais, onde está também a maternidade. E por isso mesmo, acredito, que as mulheres devem sempre ter consciente que têm à sua disponibilidade, o poder, o direito, de escolher como querem ser e como querem viver a sua vida enquanto mulheres e enquanto mães.
A vida presenteou-me com pessoas que me ajudaram a iniciar o caminho de volta para a Mariana, com pequenos convites para momentos que eram tão “a minha cara”. Disse que “não” muitas vezes porque escolhi ficar a cuidar do meu bebé…. Mas quando disse que sim, quando consegui libertar-me da culpa de deixar um bebé em casa e fui, abriu-se uma porta que não mais quis fechar porque percebi que com inteligência, sensibilidade, bom senso, disciplina e organização não preciso de abdicar de ser a Mariana, não preciso de abdicar dos meus projetos ou das minhas vontades para ser uma excelente mãe e para criar uma ligação forte e próxima com o meu filho. Aliás, não é preciso de abdicar de nada, porque se fosse um homem, tenho a certeza que não o faria e nem pensaria duas vezes sequer! 😊
É um caminho individual, no qual cada uma de nós tem o seu próprio ritmo e pegada. É um caminho difícil porque depois de ser mãe há uma prioridade que nos surge naturalmente. Mas por isso mesmo, porque sou mãe, e mãe de um menino, tenho obrigação de ser mais e melhor, devo dar o melhor exemplo do que é ser uma mulher, com um trabalho ativo e exigente, com ambições próprias e com todo o meu estilo pessoal (sem ter de me masculinizar na forma de pensar e agir), devo ser a referência mais próxima de “PODER” no singular, no primitivo, no abstrato, e no feminino.
Mulher, Mãe
Inconformista por natureza
Curiosa por vocação
Overthinker por convicção
bloguer de fim-de-semana: jaguarperfumado.blogs.sapo.pt
Acredito na energia como força motora do Universo, acredito no poder de sonhar e de acreditar. Gosto de pensar que a felicidade é uma decisão e derradeira missão de qualquer ser humano, está ao alcance de todos. O meu maior medo é que o tempo se esgote. Não tomo decisões importantes em Mercúrio retrógrado.
Durante anos tentei ser um homem… Não, calma, não tentei mesmo ser um homem, até porque sempre estive confiante da minha feminilidade. Desta nunca tive dúvidas. Adoro ser mulher e reconheço nas mulheres uma beleza que não existe nos homens. Uma beleza que não se baseia no superficial, naquilo que está à vista mas uma beleza que vem de dentro, da sua força de ser e de querer, sobretudo, na sua força de fazer acontecer! Com força para amar, sonhar e capacidade altruística, que tantas vezes nos desvia do nosso caminho em prol do outro, do marido, dos filhos, pais e outros que tais.
De uma forma geral as mulheres são protetoras, cuidadoras, maternais dotadas de uma sensibilidade humana, muitas vezes inconciliável mas, acima de tudo, admirável.
Quando digo que tentei ser um homem, é porque durante anos trabalhei em empresas e áreas onde os homens prevaleciam em quantidade. Eu, sendo muito nova e inexperiente, quando comecei achava que para ser valorizada profissionalmente tinha de me tornar num deles, fingir que era um deles e que me interessavam os assuntos deles. Hoje olho para trás e percebo que os imitava, ao ponto de me vestir como eles! Eu realmente acreditava que se fosse um homem tudo seria muito mais fácil e as minhas oportunidades profissionais seriam outras. Estava focada na minha vida profissional e procurava singrar num domínio habitualmente ocupado por homens, ao ponto de acreditar, que não tinha alternativa… ou mudava de carreira ou, me tornava num deles. O objetivo era conseguir ser ouvida, considerada e respeitada.
Naquele mundo eu não era, contudo, a única. Naquele mundo corporativo de então, à minha volta, todas as outras mulheres eram como eu, mais velhas ou mais novas, independentemente da idade, todas eramos assim, um género meio indefinido ou indeciso dando corpo a uns fatos e camisas muito aprumadinhas que na verdade só serviam aos próprios dos homens. Um pouco de maquilhagem e umas unhas encarnadas rivalizavam com a seriedade cinzenta do traje e, felizmente, determinavam o género.
Durante anos acreditei e insisti nessa ideia, percorri esse caminho na esperança de conseguir chegar ao meu objetivo. Atrasei o casamento, a maternidade, dediquei-me por inteiro à carreira, à empresa, aos meus objetivos profissionais. Acreditei que fazia um caminho válido, um plano que viria a dar frutos, trar-me-ia solidez, confiança, uma evolução segura ou a fundação necessária para contruir algo mais profundo e duradouro. No fundo, algo que me permitisse dar o salto e aí sim, começar a pensar em dar seguimento aos meus desígnios pessoais e emocionais.
Hoje olho para trás e percebo a ignorância, o absurdo de todo aquele racional altamente despropositado de qualquer sentido. Pergunto-me de onde veio, o porquê e para quê. Sou filha do final da década de 70, cresci numa família em que a figura maternal foi determinante, uma figura que insistia no princípio inequívoco de que depender financeiramente de um homem tira liberdade e, no limite, pode tirar até dignidade. A minha mãe queria que fossemos independentes, livres, incutindo-nos, por isso, desde cedo a obrigação de trabalhar, batalhar por uma estabilidade financeira que permitisse alcançar um futuro autónomo e seguro. Cresci imbuída nesse espírito, a acreditar que só posso depender de mim.
Como eu, muitas outras mulheres são, certamente, assim convictas da importância da sua contribuição, conscientes de que precisam trabalhar muito mais, reunir mais competências para conseguir chegar ao mesmo patamar que um homem no mesmo contexto profissional. Porque, sejamos honestos, todos sabemos que para eles é geralmente mais fácil, todos sabemos que ganham mais com a mesma função, todos sabemos que os lugares de topo em qualquer organização, são ainda maioritariamente ocupados por homens. Todos sabemos, mas não compreendemos. Todos sabemos que apesar da enorme evolução ao longo das últimas décadas no que diz respeito a igualdade de direitos, ainda há um longo caminho a percorrer e, tudo porque enquanto andamos distraídas com todos os outros papeis que assumimos, preocupadas em ser multifacetadas, eles seguem focados em si e no seu desenvolvimento pessoal que, na maioria das vezes, resume-se ao seu contexto profissional.
E isto não é culpa de ninguém, não é culpa dos homens, não é culpa das mulheres, é “culpa” da natureza humana que nos determina assim e faz de nós mulheres muito mais ricas, detentoras de uma versatilidade incontestável, com a capacidade de olhar à nossa volta e conseguir realmente ver o mundo. Enxergar a vastidão de oportunidades que se abrem a cada momento se decidirmos abrir os nossos horizontes e largar tudo o que nos possa limitar.
Estas características que nos conferem uma riqueza maior em termos pessoais e humanos são na verdade a nossa maior força, o nosso maior poder, a capacidade de sonharmos e acreditarmos que tudo é possível, que qualquer caminho será uma oportunidade de crescimento e de fazer melhor porque, no fundo sabemos, só dependemos de nós próprias e da nossa vontade de querer seguir e fazer acontecer.
Hoje sou uma mulher mais madura, evoluí muito desde que comecei esta jornada. Acima de tudo, mudei desde que fui mãe, desde o momento em que decidi abraçar quem sou e aprendi que é na nossa essência que está o nosso maior poder.
Coincidentemente, ou não, hoje sou orgulhosamente mãe de rapazes, mudei de emprego e trabalho com mais mulheres, que tal como eu, tiveram a garra de desbravar o seu caminho num contexto predominantemente masculino. Hoje sei que o meu papel, especialmente como mãe é, também, demonstrar aos meus filhos o valor das mulheres. Criá-los com um sentido de humanidade apurado, com capacidade para reconhecer as vantagens humanas de promover a igualdade entre todos, em todos os planos individuais ou coletivos. Criá-los num ambiente em que a igualdade seja bandeira.
Percebi, entretanto, também, que a minha mãe tinha razão e tudo o que me ensinou estava certo, faltou-lhe apenas lembrar que para conseguir ser independente, autónoma, livre, não é necessário abdicar de quem somos, pelo contrário. O meu desvio começou nesse ponto…
Hoje sei que o meu maior poder é aceitar-me, amar-me tal como sou, feminina, sonhadora, emocional. Acredito em mim, acredito que posso, sou capaz e consigo. Luto pelo que acredito, batalho por aquilo que quero. Sou duas facetas numa mesma moeda… talvez diferentes, mas perfeitamente compatíveis e conjugáveis.
Hoje sei que o caminho se faz com muito trabalho, resiliência e dedicação, mas desenha-se com sonho, amor e ambição.
Cientista e professora.
Sempre aluna.
Lembro-me de, em miúda, achar que não cabia, não fazia parte. Os primeiros anos de escola são uma sucessão de más memórias. As piores que tenho. Achava que as crianças eram isso mesmo, crianças, tão diferentes de mim, que já nasci responsável, séria, adulta. Para ser aceite, escolhi ser admirada. A melhor, sempre. Cada dia era uma corrida e eu tinha que chegar primeiro. Escreve no teto: Vou ser a melhor. E cada vez melhor. E assim foi, indiscriminadamente, em tudo o que fazia.
Tive uma infância e uma adolescência privilegiadas, todos os que me acompanharam foram excecionais nos seus papéis. Os anos passaram, eu cresci. Acabei o curso, mas decidi continuar a estudar e iniciei a carreira académica. O início não foi fácil, talvez não seja para ninguém. Fazer investigação é um trabalho exigente e solitário. De competir comigo mesma, passei a competir com os outros que, à medida que fazemos o nosso caminho, são cada vez melhores. E a vida encarregou-se de me mostrar que haverá sempre outros com ideias com mais qualidade, mais rápidos ou mais fortes. É uma lição dolorosa. Quase desisti, mas a minha determinação não deixou. Completei o meu doutoramento e voltei para Portugal, dividindo o meu tempo entre aulas, alunos e investigação.
Sei que o meu trabalho não vai mudar o mundo, são pequenas vitórias, contribuições válidas, mas marginais para o conhecimento. E falho muitas vezes, causei sofrimento. Mas aceito as minhas imperfeições. E não deixo de me sentir uma privilegiada. Todos os dias descubro inspiração nas pessoas especiais que me rodeiam. Uma colega da universidade cheia de talento que também é trapezista. A presidente da minha escola que é livre e pode mudar tudo. Os meus ídolos na ciência, todos homens – porque a ciência ainda é assim – que têm tanto de brilhante como de generoso. Conheço alguns e ser merecedora da sua atenção é só por si motivo de orgulho. A minha família, que adoro, todos diferentes e todos especiais. Surpreendo-me sempre com aquilo de que são capazes.
A vontade de ferro que sempre me acompanhou leva-me a evitar o que me faz mal e trouxe os hábitos bons, o exercício diário, o cuidado com o que como e quando como. Sem exceções, mas na dose certa. Talvez assim ganhe tempo e, quem sabe, consiga chegar mais alto. Continuarei a tentar.
Sonho com uma comunidade de entreajuda, de seres inteiros e verdadeiramente livres.
Imagino crianças que preservem a sua essência e a sua inocência. Acredito numa justiça que possa contribuir para o aprimoramento dos relacionamentos. Com a consciência de que o caminho se faz caminhando.
Poder é ter a ousadia de vivermos em estreita conexão com as várias facetas que constituem a nossa essência, sem sentimento de culpa, sem o peso do julgamento e sem vergonha. O verdadeiro poder está dentro de nós, não nos é delegado. Por isso substitui a palavra Empowerment por Inpower(ment).
Resgatamos o nosso poder interior à medida que nos vamos redescobrindo, que tomamos consciência do que gostamos e queremos guardar em nós e do que não gostamos e corajosamente deixamos morrer.
Vivemos muitas vezes despidos deste poder, em apatia, sem chama, sem bravura. No meu caminho de “Redescoberta” ou de “Renascimento” percebi que o meu poder estaria reflectido em duas vertentes de mim mesma e que escolhi passar a prestar mais atenção:
Por um lado, a minha capacidade de ser VULNERÁVEL. Associava vulnerabilidade a fraqueza, hoje sinto que é onde habita o meu poder. Tem sido, sem dúvida, a parte mais desafiante do meu percurso por me obrigar a despir várias camadas de mim mesma que me fizeram chegar até onde tinha chegado enquanto Mulher. Tinham sido precisamente essas “carapaças” que me deram força para seguir em frente, para ultrapassar as minhas dores…e eis que tinha chegado o momento de as soltar. Como deixamos partir quem nos fez seguir?
A resposta é simples: quando, por um curto momento que seja, sentimos o prazer de viver sem elas. Quando experimentamos o sabor da liberdade.
A capacidade de ser vulnerável é a porta de entrada para nos amarmos e podermos, verdadeiramente amar o outro. É o que nos leva a ter compaixão, por nós próprios e pelo próximo. É saber perdoar quando nos magoam. É genuinamente sentir gratidão pelo que temos.
Existe em nós Mulheres uma energia feminina que não deve ser menosprezada…somos sensíveis, intuitivas, instáveis, sensuais, intensas. Temos o poder de dançar ao sabor do nosso ciclo menstrual, de sentir as fases da lua, de acolher a nossa dor, de honrar as nossas feridas e de aceitar as nossas lágrimas.
Resgatamos este poder aceitando a nossa vulnerabilidade e pondo-a ao serviço da nossa evolução.
Numa outra vertente, poder para mim é também permitir-nos expressar o nosso lado selvagem. A força, a audácia, a determinação, o instinto protector, a criatividade, a sexualidade vem da chama que arde em nós e que nos mantém vivas.
Não podemos viver em plenitude quando esta chama se apaga. Ficamos desprovidas de força, frustradas, zangadas (connosco e com o resto do mundo), tristes, deprimidas, doentes.
Propositadamente lhe chamo “selvagem”. Selvagem não é viver em “sobrecompensação” para esconder uma insegurança que nos consome e por vezes se traduz em arrogância , em raiva, rancor perante o outro. Selvagem não é usar a força sobre o outro.
Selvagem não é um estado “mental”. É, ao contrário, perder o controlo, render-se à força do UNIVERSO e deixar que ela nos mova, é usar a raiva como inspiração criativa, é usar a força para avançar sem medo, a audácia para lamber as nossas feridas.
Estas duas vertentes coabitam em nós. Somos AR, somos ÁGUA, somos TERRA e somos FOGO.
Apenas nos aceitando como um todo poderemos encontrar paz para viver no AMOR e bravura no coração para que o medo não nos impeça de caminhar. Apenas assim poderemos sorrir com a alma e saborear a alegria de viver.
A tomada de consciência de que o poder está em nós é o primeiro passo para a transformação. Sempre que imputamos ao outro a responsabilidade pela nossa felicidade estaremos a abrir mão e a entregar-lhe o nosso poder.
Há coisas das quais não podemos abrir mão. Há responsabilidades que devem ser assumidas por quem realmente as tem. Há escolhas que só podemos ser nós a fazê-las. Temos o poder de sermos os realizadores e protagonistas na nossa história, mesmo quando ela corre menos bem. Podemos o que queremos.
Só depende de nós.
Avós
Mães
Filhas
Netas
Nunca ninguém falou delas, mas elas estiveram lá.
Eu vou contar:
24 anos. Mestrado em Engenharia Aeroespacial e trabalhadora na área de Customer Education na empresa alemã NavVis.
Apaixonada pelo mar e pela natureza. Entusiasmada por aprender todos os dias algo novo, e encantada por ensinar tudo o que sei.
O meu maior objetivo é amar incondicionalmente quem me rodeia, alcançar paz e amor próprio (livre de comparações!).
Também gostava de construir um foguetão.
Por razão que desconheço, cresci a acreditar que vinha mudar o mundo. Sim, modéstia à parte, eu acreditava que qualquer que fosse a minha carreira, eu iria mudar o mundo e ser a melhor. E por isso mesmo, sempre tive a mentalidade de me superar a mim e a toda a gente. Via qualquer momento da minha vida como uma prova na qual eu teria sempre (mas sempre) de brilhar: um teste, um campeonato de vólei, um simples jogo de cartas, um debate. Até uma simples ação, como por exemplo lavar os dentes, era alvo de “cálculos complexos” com o objetivo de a tornar o mais eficiente possível. Acreditava que se todos os pequenos hábitos que constituíam a minha vida fossem feitos com o melhor desempenho possível, eu iria acabar por conquistar feitos de grandes proporções. Afinal, uma pirâmide começa com um simples tijolo…
Devido à minha paixão por carros e aviões, decidi orientar esta minha vontade de atingir a perfeição para uma licenciatura em Engenharia Mecânica em Lisboa e, atualmente, um mestrado em Engenharia Aeroespacial na Alemanha. Evidentemente que tentei ser a melhor na licenciatura, falhando, e atualmente desejo ser a melhor no mestrado. Detestava, e detesto, falhar, mas sabia que fazia parte, e que a minha melhor opção era, lá está, falhar da maneira mais perfeita possível. Pensava e repensava como poderia ter feito tudo melhor, analisava quais tinham sido as minhas decisões e fazia notas mentais (e no telefone) dos passos a seguir para certificar-me que não voltaria a acontecer.
No entanto, todo o meu esforço em alcançar este ideal de mulher inteligente e trabalhadora, fez-me negligenciar uma das coisas mais importantes que se pode ter: uma boa saúde mental.
A minha busca pelo perfecionismo, para além de me consumir diariamente, foi um mecanismo de defesa para as desafiantes infância e adolescência que tive. Cresci com a crença de ser insuficiente e não merecedora de coisas boas, e por isso compensava alcançando resultados excelentes, que me fizessem sentir valorizada.
Sentia, e sinto, estar numa sociedade em que alguém que luta pela sua saúde mental está em constante desvantagem, pois não o pode exteriorizar e é “obrigada” a ter um desempenho igual ou superior ao de outras pessoas de mente mais pacífica.
Numa altura em que, como mulher, quero criar o meu lugar de sucesso num mundo ainda dominado por homens, ter este pequeno setback torna as coisas um pouco mais difíceis. Acabo por sentir que estou a correr maratonas de perna partida. E como eu, acredito haver muitas mais mulheres.
Evidentemente que toda esta pressão me levou a um esgotamento, do qual ainda estou a sair pouco a pouco.
Hoje em dia, após o meu pequeno ataque de ansiedade matinal, começo o meu dia com o meu pequeno-almoço preferido, vou ao ginásio para libertar todas as tensões (e orientar o meu perfecionismo para o exercício físico), e começo o meu dia de aulas, conciliadas com trabalho, cheia de energia. Há dias que não é assim. Há dias que me quero isolar no canto do quarto e outros que quero passá-los a olhar para o mar, a fazer absolutamente nada. Mas já os aceito com carinho e muito amor.
Sinto-me grata por ter tido este burnout, pois permitiu-me, depois de tantos anos em convivência comigo, começar a conhecer-me finalmente, a entender as minhas capacidades e limitações. A desenvolver paciência e calma. A diminuir a minha pressa por alcançar a perfeição, pela qual ainda tenho desejo, mas apenas opto por chegar lá de maneira mais relaxada, a saborear o caminho.
Sem dúvida que não têm sido anos fáceis de ultrapassar, e ainda estou longe de águas calmas. No entanto, vejo estes momentos como oportunidades para melhorar quem sou. Apercebi-me que no setting em que estava iria ser muito mais custoso chegar ao sucesso e perfeição que admiro.
Agora sim, sinto-me cada vez mais capaz de mudar o mundo. Nem que seja ligeiramente.
Tenho 12 anos e sou de Portugal.
Gosto de escrever e de representar.
Pediram-me para escrever sobre poder por isso aqui está o meu poema.
O poder é uma dádiva
Que cada um de nós tem
Vem connosco desde que nascemos
E não falta a ninguém.
Posso ser uma criança
Mas tenho muito poder
Com imaginação e criatividade
Posso fazer o que quiser.
Grandes responsabilidades
Vêm com o poder
Tens de ter cuidado
Para não o perder.
O poder é algo
Que todos temos
Se ele for fraco
O fortalecemos.
Esta é a minha lição
Não te podes esquecer
Ele é diferente e especial
Pois este é o teu poder.
A Maria Luísa, Malu para toda a gente, tem 6 anos, fala pelos cotovelos e quer ser cantora.
A Carminho tem 4, às vezes parece tímida mas ninguém faz farinha com ela e quer ser polícia.
A Maria Flor é tratada por MiFlor porque era assim que a Carmino a chamava quando era mais pequenina. Tem 2 anos e é tão doce como destemida, faz rir e ri como ninguém.
Fazem o trio perfeito.
Conversas reais entre uma filha e um pai, transformadas em animação.
7 anos
Gémea da Maria
Filha da Sandra
7 anos
Gémea da Carmo
Filha da Sandra
Womanity’s purpose is to help in the empowerment of women. We do that through our mission – sharing is empowering. We believe that this very feminine ability to tell and share stories is a valuable way to inspire and reinforce the ‘see to believe’ muscle.
But we want to do more.
We believe knowledge to be another valuable source for empowerment; and if we have it, we feel compelled to share it.
ReWire is a new section in which you will find our suggestions on readings, podcasts and other media, related to the theme of this Onzine.
Why do we call it ReWire?
We love this word.
First of all it has one of our favorite letters in it, the W, of course. Secondly, it means all we wish for: an easy way to nurture your brain, establish new neural connections, thus bringing different perspectives on the subject.
Please feel free to send us others you may have: Womanity is community, we would love to hear from you.
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