Believe me: this is the editorial I wish I didn’t have to write.
Please don’t get me wrong: I would rather not write it because the subject of Right should now be obsolete: this is is the 21st Century, for Christ sake. But the matter of fact is that it still needs to be addressed, it has to be in our minds and hearts, in our voices and speech, in our concerns.
The right to walk freely without being molested in words or actions.
The right to be ambitious without being called cold or masculine.
The right to be single.
The right to say ‘divorced’ without shame.
The right to choose the work that replenishes our nature.
The right not to work at all.
The right of not being a mother.
The right to be independent.
The right to education.
The right to choose the person (or persons) we want to have sex with without being called a slut.
The right to be over 30.
The right to equal pay and opportunities.
How many more are there? I am sure you could name a dozen more, and if you were a woman living in certain countries other rights that we considered ‘basic’ would be written here, too.
So, let’s not turn our heads and look the other way. Let’s not pretend Right is not a subject anymore. Let’s not forget all the work that still needs to be done in what concerns women rights.
We don’t need to wait for a revolution to happen; we can make change by simply doing our part. Mine is to write this editorial and take you through the seven women that did theirs by simply sharing their thoughts and experiences about Right.
Foto by Nuno Gervásio
He observado que cada vez que escucho la expresión mi oído se agudiza para detectar si hay o no congruencia entre la denuncia manifestada y el discurso de quien habla. Después me lo pregunto a mí ¿habrá derecho a que eso le suceda? Lo cierto es que intento no utilizarla y sustituirla por un sentimiento que manifieste una empatía ante lo acaecido. Cuando decimos: “no hay derecho a que cada año padezcan y mueran de hambre millones de personas (según Oxfam más de 4 millones, el doble, después de la COVID19), cuando producimos alimentos para 12.000”. Por cierto que el 60% son mujeres, pero también sabemos que los datos más elevados de todo lo malo, los ostentamos las mujeres.
Qué tarea tan ingente la de calificarlo todo en base a derecho. Es ahora, en contacto estrecho con jóvenes vulnerables que esta expresión “no hay derecho” martillea mi cerebro cada día. Porque todo parte de donde naces, cómo te crían, qué atenciones recibes, cómo lo incorporas y qué oportunidades te surgen en la vida. Hay tantos derechos implicados que resulta casi imposible encontrar a los responsables de tanto quebrantamiento. Nos han enseñado que para resolver los problemas hemos de ir a su raíz, pero…¿para qué? Lo que ahora cuenta es qué puedes hacer por ellos y qué he de movilizar en mí, porque todos mis actos incluso mis pensamientos tienen consecuencias. Qué diferente es opinar sobre la inmigración ilegal, el fracaso escolar, las adicciones o ser madre a una edad temprana cuando tienes bajo tu tutela chavales que están en esa situación. Centrándome en las mujeres la cosa empeora. Si además de ser inmigrante ilegal, no estudias o consumes y eres mujer, puedes correr aún peor suerte o complicar aún más la situación trayendo un bebé al mundo. Porque cuántas son las jóvenes que inesperadamente quedan embarazadas por novios inconscientes que las convencen de seguir adelante para que finalmente ni siquiera lleguen a estar presentes al final del embarazo. Abruma la cantidad de familias monomarentales que copan las cifras de la vulnerabilidad. ¿Cómo es posible que todavía hoy, las mujeres sigamos atadas a esa irremediabilidad de nuestra naturaleza cuando la historia y los datos nos demuestran cada día que hay una altísima probabilidad (mayor cuanto más joven) de acabar criando ese fruto de un instante de amor, solas? Qué creencias, qué principios y qué derecho no nos asiste para decidir. ¿Qué tiene que ver todo esto con #Womanity? No sé. Pero son los únicos pensamientos que rondan en mi cabeza últimamente; y aunque no tengan sexo ni género, tocan en lo profundo de la humanidad.
Com grande honra recebi o convite da minha Amiga Alexandra Quadros para vos escrever sob o tema “RIGHT”.
Dizia-ela: “Tem tudo a ver com direito e com direitos e tu és uma mulher que acredita e pratica ambos”. Queria ela “uma perspectiva do ponto de vista feminino e feminista.”
Confesso que desde então, o meu cérebro não parou de fervilhar e perdi já a conta às milhares de ideias e associações ao tema que, ao longo dos dias, foram passando pela minha cabeça. Sou uma mulher de cabeça quente. Por isso, no milésimo de segundo que seguiu ao convite, pensei de imediato: “RIGHT” em português pode ser sinónimo de certo. E, a uma ideia sobre “o que é certo” corresponde sempre à ideia oposta sobre “o que é errado”. Qual a abordagem correcta?
Depois fiquei aterrorizada. Feminismo? Eu que, confesso-vos, sou tendencialmente contra todas as ideias radicais, sejam elas de que natureza forem. Eu, conservadora me assumo, que adoro as diferenças entre homens e mulheres, e que, quando me é conveniente, adoro tirar partido dessas diferenças? Como é que poderei, de consciência e com toda a propriedade dar-vos uma perspetiva feminista do Direito? A realidade é que não posso. Mas o que posso é dar-vos uma perspectiva feminina, de alguém que, diariamente, defende os direitos que outros querem fazer valer sobre terceiros e de alguém que, desde sempre, não compactua com a obsoleta ideia de que este ou aquele tema, esta ou aquela actividade, este ou aquele direito, ou o que quer que seja, nos é vedado só pelo facto de sermos mulheres.
Recentemente, e a propósito deste tema, há duas histórias, relacionadas com direitos das mulheres, que ficaram a trautear na minha cabeça.
A primeira relaciona-se com o meu filho. Um certo dia 8 de março, quando ia deixar o meu filho a um dos seus treinos, pergunta-me ele: porque é que hoje é o Dia da Mulher? Claro que na minha rapidez de resposta, e na minha já confessada tendência anti-feminista, respondi imediatamente: é um perfeito disparate com o qual eu não concordo porque não há Dia do Homem e, se não há Dia de Homem, porque haverá de existir um Dia da Mulher. Depois, parei e respirei, e lá lhe expliquei que o dia da mulher assinala a luta constante que as mulheres tiveram ao longo dos tempos para fazerem valer os seus direitos sociais, tais como o direito de voto e de um modo geral, para comemorar as conquistas sociais que ao longo dos tempos foram sendo adquiridas pelas mulheres. Depois de o deixar no treino, e quando me encontrava sozinha com os meus pensamentos, não podem imaginar a censura que me infligi. Como é que eu – mulher e mãe – dizia ao meu filho varão que o Dia da Mulher era um disparate? Como é que era possível que não tivesse feito imediatamente um discurso eloquente sobre todas as grandes mulheres pioneiras na defesa dos nossos direitos (Marie Curie, Simone de Beauvoir, Simone Veil, Carolina Beatriz Ângelo, Regina Quintanilha, Maria de Lourdes Pintassilgo entre muitas outras)? Estaria eu a contribuir para um futuro “machista”? A realidade é que, actualmente, muitos dos episódios machistas e anti feministas que vivemos são fruto da educação e do contexto social em que esses homens foram educados.
E aqui chegamos à segunda história. Esta é uma história que conheci recentemente, de uma mulher que considero uma guerreira. História que me marcou por ser na verdade um exemplo de resiliência, um exemplo de luta pelos direitos e, como tive a oportunidade de lhe dizer, uma história que deveria ser um exemplo para a geração Z.
Maria (chamemos-lhe assim em homenagem a todas as Marias deste mundo), filha de um casal de lavradores no norte do Pais, quando chegou ao final do 12º ano de escolaridade sabia que, o que a esperava, enquanto mulher, era ajudar os seus pais na lavoura. Sabia-o porque os seus pais não tinham hipóteses de financiar os seus estudos, sabia-o porque era uma de 6 filhos e porque não havia possibilidade de estudarem todos ao mesmo tempo. E, até aqui, nada de novo porque esta é, infelizmente e ainda hoje, uma realidade de muitos jovens deste País.
Maria, que não se resignava com esse facto, decidiu então que a melhor opção que tinha era ingressar no exército português. Na altura, com 17 anos e sem os pais saberem, aldrabou uma autorização, assinou-a em nome da sua mãe para assim poder fazer os testes físicos de acesso ao exército. Como conta Maria, o seu pai, era o típico homem com ideias muito próprias e definidas do que cada um, em função do género, poderia ou não fazer. Ainda assim, nada a demoveu e esperou ansiosamente pelos resultados das provas que entretanto tinha ido prestar.
Maria fez, entretanto, 18 anos de idade e poucos dias depois, chegou a sua casa uma carta do Ministério da Defesa Nacional. Essa carta foi recebida pelo seu pai que, de rompante, entra no seu quarto e pergunta-lhe “o que é isto minha menina?”.
Nem o pai a demoveu e, como nessa altura Maria já era maior de idade, não hesitou e seguiu a sua vida juntando-se ao exército. Maria esteve seis anos no exército, alguns dos quais em comissão de serviço no Afeganistão. Maria gostava do serviço que prestava no exército, que acabou por deixar porque “ acabou por passar e ver algumas coisas com as quais não concordou”.
Maria não o conta abertamente. Mas nas suas palavras podemos perceber que, no decurso do desenvolvimento da sua carreira militar, Maria foi discriminada por ser mulher. Porque sabia que sozinha não conseguiria mudar o sistema, Maria acabou por deixar o exército e dedica-se hoje, a actividades relacionadas com saúde e desporto, a ajudar outros. Esta é uma história real ocorrida já em 2015 e não pode deixar de nos fazer pensar e questionar como é que em Portugal, em pleno Século XXI, as mulheres são ainda vítimas de discriminação e impedidas de progredir na carreira profissional só porque são mulheres.
Maria foi discriminada e impedida de prosseguir a sua carreira no exército português. E quando tomamos conhecimento com estas realidades, realidades que acreditávamos já não existirem, vemos que ainda temos um longo caminho a percorrer.
A Constituição da Republica Portuguesa, diz-nos no seu artigo 13º, que “ (1) todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei e que (2) ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.”
Note-se que a Constituição não diz que Homens e Mulheres são iguais. Não são!
Homens e Mulheres são muito diferentes. Tenho por isso sérias reservas quando se utiliza a expressão “igualdade de género” sem qualquer esclarecimento adicional. Igualdade de género não significa que Homens e Mulheres são iguais, mas sim que Homens e Mulheres devem gozar dos mesmos direitos, recursos e oportunidades.
Em 2015, a Organização das Nações Unidas, definiu na sua lista das coisas a fazer em nome dos povos e do planeta (Agenda 2030), dezassete objectivos para o desenvolvimento sustentável. O 5º pilar fundamental para o desenvolvimento sustentável é o da igualdade de género.
Até 2030 pretende a Organização das Nações Unidas, entre outros, que se alcancem os seguintes objectivos: Acabar com todas as formas de discriminação contra todas as mulheres, em todo o mundo, Eliminar todas as formas de violência contra todas as mulheres , Eliminar todas as práticas nocivas, como os casamentos prematuros ou forçados, envolvendo crianças, bem como as mutilações genitais femininas, Reconhecer e valorizar o trabalho de assistência e doméstico não remunerado (realidade, aliás, recentemente reconhecida pelo nosso Supremo Tribunal de Justiça), Garantir a participação plena e efetiva das mulheres e a igualdade de oportunidades para a liderança, em todos os níveis de tomada de decisão, na vida política, económica e pública, adotar e fortalecer políticas sólidas e legislação aplicável para a promoção da igualdade de género
A promoção da igualdade de género é um catalisador de mudança e de grandes transformações a nível económico, político e social.
O Governo Português, em consonância com aquela Agenda 2030, aprovou em 2018 a Estratégia Nacional para a Igualdade e a Não Discriminação – Portugal + Igual (resolução do conselho de ministros 61/2018 de 21 de Maio de 2018), estratégia cujo plano de acção se prevê que seja revisto no ano de 2021. Aquela estratégia apoia-se em três planos de acção, um dos quais em matéria de não discriminação em razão do sexo e de igualdade entre homens e mulheres (IMH) que é coordenado pela Comissão para a Cidadania e Igualdade do Género (CIG).
Em comunicação efectuada pela CIG no seu site institucional, define-se a igualdade de género como significando a “igual visibilidade, empoderamento, participação e responsabilidade de mulheres e de homens em todas as esferas da vida pública e da vida privada. Esta igualdade concretiza-se no igual acesso e possibilidade de usufruto dos recursos e na igual distribuição destes por mulheres e homens. Significa aceitar e valorizar de igual modo as diferenças de mulheres e de homens e os vários papéis que desempenham na sociedade.”
Homens e Mulheres ou Mulheres e Homens (para não ferir susceptibilidades) não são iguais. Têm (ou têm de ter) os mesmos direitos sociais, económicos e políticos. Mas não são iguais e esta é uma verdade que, no seculo XXI deveria ser insofismável. RIGHT?
“Ela é tão livre que um dia será presa.
Presa porquê?
Por excesso de liberdade.
Mas essa liberdade é inocente?
É. Até mesmo ingénua.
Então porquê a prisão?
Porque a liberdade ofende.”
– Clarice Lispector
Para quem o certo é linear, a liberdade ofende. Cada vez que leio estas palavras da Clarice L. viajo no mundo das liberdades, das escolhas, dos preconceitos e da interferência da sociedade nas nossas vidas. Se há direito que fui aprendendo a valorizar é o nosso direito de escolha. Todos os dias, a toda a hora, fazemos escolhas, das simples às mais complexas. Consciente ou inconscientemente, todas elas são condicionadas pela nossa história, hábitos, ideias preconcebidas, medos e estados de espírito. O tempo, os erros e as cicatrizes, mostram-me que as minhas escolhas vão definindo quem sou e a importância de as alinhar com os valores que me regem. Acordar e pensar que tenho a vida que resulta das escolhas que faço dá-me confiança e reforça a enorme vontade de optar pelas que me respeitam e não me tornam refém de um quotidiano que alguém escolheu por mim.
A noção de efemeridade motivou desde cedo o meu gosto por processos de autoconhecimento e pelo mundo dos sentimentos e emoções. Temas de gestão emocional e a sua complexidade educacional, social, cultural, histórica, e de género, sempre foram pontos presentes no meu círculo mais íntimo de amigos e a curiosidade crescente em descobrir mais sobre mim, sobre os meus limites e sobre os meus medos foi mais forte do que alguns preconceitos que tinha em relação ao mundo da psicologia. Acabei por me cruzar com uma psicóloga maravilhosa e foi o início de uma das maiores viagens da minha vida, surpreendentemente boa e orientada ao bem-estar, inundada de reflexões tão desafiantes como libertadoras nas quais os conceitos de certo ou errado foram amplamente questionados. Os novos horizontes ganhos fazem-me desejar intensamente que mais pessoas o façam. Acredito que iria libertar, simplificar e aliviar muitas vidas e muitas mentes.
Andei muitas vezes sem rumo e senti na pele que não há vida sem obstáculos, não há caminhos sem riscos e não há vitórias sem medos. Percebi que é chave clarificarmos quem somos, o que andamos cá a fazer e o que é realmente importante para nós.
Se podia ser mais simples? Talvez, não fossemos nós educadas sob padrões sociais, deixando muitas vezes de refletir sobre os mesmos e acabando por fazer escolhas pouco alinhadas com as nossas verdadeiras vontades.
Os meus últimos anos foram de descoberta, de construção e de ajustes conscientes à sociedade de que fazemos parte.
Como mulheres, fomos durante a História educadas a servir, a aguentar e a moldar as nossas vontades à vontade e prazer de outros. A herança pesa-nos se tentamos mudar o ângulo e nos pomos em primeiro lugar, aparecendo automaticamente a sombra de culpa ou de egoísmo (especialistas em autossabotagem).
Quantas mulheres conhecemos que estão fechadas em vidas nas quais não se sentem bem? Quantas vezes nos vimos em situações não desejadas, aprisionadas por ideias pré-concebidas, falta de autoestima, medos, ou simplesmente para agradar alguém?
Descobrir o que nos satisfaz de verdade, vale ouro. Faz a diferença entre ter uma vida bem vivida ou uma vida “assim assim”.
Está certo gostar de experimentar coisas novas. Está certo cuidarmos de nós.
Está certo saber dizer que não. Está certo ter coragem de parar.
Está certo lutar pela nossa autonomia e pela liberdade de nos diferenciarmos umas das outras fazendo o que nos faz sentido. Temos direito de ser e fazer diferente.
Está certo questionar padrões, descobrir o que nos move e nos faz sentir bem, mesmo que tal não vá de encontro ao que a sociedade espera de nós. Pior do que desiludir alguém é desiludir-nos a nós mesmas, e quando não estamos bem não conseguimos ser o melhor para os que estão à nossa volta.
Temos o direito de tentar, temos o direito de recomeçar, temos o direito de ser imperfeitas e vulneráveis. Acredito que o que nos faz vulneráveis nos torna verdadeiras, especiais e bonitas. Pelo contrário, sempre que nos moldamos a outros perdemos a autenticidade – “Todos nós nascemos originais e morremos cópias”, C. Jung
Com o passar do tempo fui-me deparando com a gestão constante das expectativas pessoais, sociais e profissionais, onde as escolhas livres e conscientes são postas em causa diariamente.
O medo que temos, enquanto mulheres, de falhar ou de sermos julgadas é fonte de muitas barreiras. O medo de não cumprir o papel de boa aluna, boa filha, boa mulher, boa mãe, boa amiga, boa trabalhadora, etc., paralisa e determina, perigosamente, as nossas escolhas. Na verdade, se escolhermos cumprir sempre tudo o que esperam de nós, iremos provavelmente, viver uma vida bastante distinta da que viveríamos se tivéssemos em consideração o nosso bem-estar.
Sabemos que há menos julgamento se cumprirmos o caminho padrão: uma relação, filhos e um emprego estável. Existe a crença de que esta trilogia dita o caminho do sucesso e da felicidade.
Atualmente solteira, 37 anos, sou questionada por quem está longe de o assimilar como uma escolha consciente. Talvez nunca se tenham permitido, ou lhes tenha sido dificultada tamanha ousadia e liberdade: serem o que querem, quando querem. Continuam a confundir-se os conceitos solteira e sozinha, o que faz com que a percentagem real de mulheres que vivem em relações infelizes e em solidão se mantenha nas suas realidades menos boas e aguente por “obrigações” familiares, dependência financeira ou simplesmente pelo temor a estar sozinha. Afinal de contas, ser casada e infeliz, ainda é aceite e normalizado. Ainda se considera que mais vale triste numa relação solitária do que solteira feliz e acompanhada.
Ao tema filhos, surge mais um mar de questões. Temos o direito de não querer ter filhos. Temos o direito de escolher com quem os queremos ter. Temos o direito de escolher as condições em que os temos. Temos o direito de nos separar se não nos sentimos felizes. Temos o direito de ter um filho, sem sermos questionadas pelo segundo. Temos o direito de ter dois, ser sermos pressionadas a ter o terceiro. Temos o direito de ser mães com vida social ativa sem nos perguntarem o que fizemos aos filhos. Temos o direito e o dever de construir e viver realidades saudáveis.
Homens? Sim, sempre que fizer sentido.
Namorados, casar, filhos? Sim, se sentir que é para ser mais feliz do que sou agora e se acreditar que me vai acrescentar mais do que terei de abdicar. Basta olhar à volta para ver que ter uma relação e filhos não é sinonimo de felicidade.
Aprendi que ter um emprego, dinheiro, estar numa relação e ser mãe, por si só, não nos define enquanto pessoas, isto é, não faz de nós melhores ou piores seres humanos. As relações que criamos, essas sim, definem-nos enquanto pessoas. É a capacidade de construirmos relações sãs e de qualidade que nos enriquece e nos satisfaz. Procuro, por isso, rodear-me de pessoas com valores com os quais me identifico, admiro e que sinto que acrescentam à minha vida.
Quanto às esferas amor e profissão, podemos fazer tantas mudanças quanto as necessárias até alcançarmos equilíbrios felizes.
Terminarei sempre no direito que temos em ser feliz. Não é uma utopia, mas requer investimento estruturado e constante. Pequenos passos, todos os dias, na descoberta dos nossos valores estruturais idiossincráticos e construindo os caminhos nesse sentido. Caminhos atribulados, com poucas retas, mas onde podemos descobrir vistas maravilhosas.
Não sei onde li, mas não esqueci:
@ffms
O filme abre com um plano de uma mulher cerca de 30 anos, grávida, a levantar-se barriguda do seu lugar no open space de um escritório. Passa por um pequeno grupo de colegas em brainstorming. Neste momento um dos colegas, aparentemente amigo, escreve na brincadeira algo no quadro – o filme passa a câmara lenta e começamos a ler o que está a ser escrito:
“grávidas ficam burras”
A mulher responde com um sorriso de desprezo e um manguito, num aparente bom clima.
Ouve-se a voz do rapaz:
“está provado cientificamente!”
Ainda em câmara lenta, vemos o grupo rir da piada.
Corta.
Temos agora em plano uma miúda de 20 anos, sozinha na rua de passo apressado. Tem o mesmo estilo da grávida do plano anterior o que nos faz entender que é a mesma pessoa anos antes.
Ouvimos o som dos sapatos no chão húmido. Ainda é noite mas está a clarear.
A miúda veste um top largo de alças, calças de ganga e ténis. O cabelo é comprido e solto. Passa por um grupo de rapazes que fumam à porta de uma discoteca. Nem olha para eles. Ela passa tão confiante que o porteiro deixa-a entrar sem pestanejar.
Entramos com ela e começamos a ouvir a música que até agora era só uma batida de fundo.
A rapariga está feliz, entrou no momento exato do refrão, levanta o braço no ar e grita a música:
– YOU GOTTA FIGHT!!! FOR YOUR RIGHT!! TO PA..
É interrompida neste momento.
Em câmara lenta, vemos um rapaz que lhe agarra o braço e lhe segreda qualquer coisa ao ouvido.
Não sabemos o conteúdo da conversa, mas percebemos que ela revira os olhos, solta-se, empurra-o e chateia-se – sobretudo por não ter terminado a frase que estava a querer cantar.
Corta.
Vemos a mesma rapariga um pouco mais nova, 18 anos, numa aula na universidade.
Troca sussurros com um colega do lado e nesse momento um professor cerca de 80 anos, de sobretudo preto e chapéu preto, aproveita o momento, vira-se imediatamente para trás e sem ouvirmos as palavras mas assistindo a tudo em câmara lenta, vemo-lo furioso a expulsar apenas a miúda da aula.
Ela sai batendo com a porta do anfiteatro.
Corta.
Vemos a mesma miúda com um ar ainda mais novo. Parece ter agora 16 anos. Veste uma roupa mais infantil. T-shirt, calças de ganga, ténis e mochila às costas. Passeia numa rua pouco movimentada, residencial, já é início de noite e parece estar apenas a voltar a casa num fim de tarde.
Ao passar por uma esquina cruza-se com um senhor de idade. Em câmara lenta vemos que o senhor desaperta o cinto e abre a braguilha assim que a vê. Ela faz-lhe um manguito, acelera o passo, detetamos o misto de medo na expressão do olhar e de segurança na sua linguagem corporal.
Corta.
Vemos outra vez a mesma miúda, mas mais nova ainda. Cerca de 13 anos. Está com um grupo de amigas e quando passa num prédio em obras perde-se do grupo pois é a única, ingénua, a parar e olhar para cima para perceber quem e porque a chamam.
Vemos um grupo de trabalhadores de obras a assobiar e a gritar.
Em câmara lenta começamos a ver e ouvir um aplauso para a miúda que ali ficou. A câmara atravessa os sorrisos dos vários homens e as expressões de desejo. Num plano picado vemos a miúda pequena, sozinha lá em baixo, a olhar para cima com um ar confuso.
Corta.
A nossa miúda é ainda mais miúda. 9 anos. Usa um vestido básico branco, uns ténis all star vermelhos. Cabelo curtinho com franja.
Desce uma escadaria de um centro comercial enquanto come um gelado.
Neste momento cruza-se com um senhor muito mais velho que lhe sussurra:
– quem me dera ser esse gelado.
A cena passa para câmara lenta, o senhor continua a subir as escadas a rir-se não desviando o olhar da criança. Ela, fica estática na escada com um ar chocado e assustado.
Corta.
Estamos agora num sítio totalmente diferente. Um hospital.
Vemos um bebé a nascer.
Uma enfermeira põe o bebé ao colo da sua mãe.
Percebemos que a mãe é a nossa personagem principal -a miúda- agora mulher. (a mesma mulher grávida da 1ª cena)
A mãe sorri e sussurra algo ao ouvido do bebé:
Começamos a ouvir o hit de Billie Eilish – Try not to abuse your power.
O filme termina. Entra Lettering.
– filme baseado na história verídica de Maria Sales Caldeira.
e de…
Entra lettering a rodar com todos os nomes femininos possíveis ao som de FIGHT THE POWER de Public Enemy:
Alexandra Vera Graça Sofia Filomena Paz Joana Rita Madalena Luísa Sónia Raquel Mariana Amélia Júlia Ana Cristina Alice Carolina Diana Matilde Carmo Elsa Marta Flor Francisca Carlota Violeta Benedita Paula Filipa Teresa Cláudia…
FIM.
Como mulher, sempre me questionei sobre como poderia ser parte activa da mudança, como poderia ajudar outras mulheres a sentirem-se mais donas de si próprias.
Sempre tive um grande sentido de justiça, desde pequena me revoltava a injustiça sob qualquer forma que fosse, mas como poderia eu ajudar na mudança? Sempre questionei quais eram os meus direitos e, também, os meus deveres, quem decidia as linhas – onde acabam e começam – e porque é que, no fundo, acabamos muitas vezes por não ter direitos iguais.
No fim do curso de psicologia, em 2004, tive o privilégio de trabalhar com sobreviventes de violência doméstica, mulheres que tinham sido despidas dos seus direitos, pisadas, vergadas, mas que continuavam de pé, numa caminhada de reconstrução face ao mundo que tinham deixado de compreender.
Conheci mulheres de luta, de fibra que queriam mudar o mundo, mulheres que queriam ser ouvidas e não tinham medo de encarar uma sociedade que muitas vezes não as percebia. Aí, encontrei um lugar onde a minha voz finalmente se juntava a tantas outras e podia ser um agente de mudança, uma mulher de cada vez. Ser uma pequena parte activa no processo de reconstrução destas mulheres fez-me sentir parte de algo bem maior.
Entretanto, a vida mudou e levou-me para outros caminhos mas sempre senti muita falta de estar no lugar da frente da mudança.
Anos mais tarde, em 2012, descobri as artes marciais através da STAT Artes Marciais. Primeiro o Taekwondo e depois o Krav Maga. Apesar de não ser o tipo de mulher que podemos descrever como atlética e já com 30 anos, percebi, na STAT, que as barreiras são para serem quebradas e que com trabalho, persistência e dedicação tudo se consegue alcançar.
Não há géneros na STAT; há oportunidade de crescer e de abrir novas portas dentro de nós, de perceber novas competências e possibilidades. Percebi que o meu corpo afinal tinha muitas possibilidades e comecei a perceber quais as minhas forças e também as minhas fragilidades, e obviamente a contorná-las.
Reinventei-me e tornei-me instrutora de artes marciais. Comecei a dar aulas e a perceber o potencial que tínhamos de promover a mudança e de levar as pessoas a superarem-se e a desbloquearem todo um novo mundo de potencialidades.
É aqui que nasce o projeto PinkBelt, um programa de defesa pessoal para mulheres, dado por mulheres, fruto de uma paixão pelas artes marciais e de uma vontade de nivelar o terreno de jogo. Através destes seminários de defesa pessoal procuramos que cada mulher descubra todo o potencial que tem dentro de si, a sua voz e o seu direito em expressá-la.
Sempre num ambiente seguro, divertido e de irmandade, tentamos soltar o que já existe nas alunas, dando-lhes ferramentas para perceberem que afinal, como mulheres, somos capazes de muito mais do que pensamos e, sobretudo, de ganhar confiança em nós próprias. Através de exercícios físicos vamos percebendo como podemos estar mais atentas ao que nos rodeia, como podemos reagir e, sobretudo, que temos o direito a ser ouvidas, a sentirmo-nos seguras.
Por mais que o mundo possa ser assustador, por mais que o terreno de jogo não seja sempre de igual para igual, temos o direito a ser ouvidas, a proteger a nossa ‘bolha de segurança’ e não temos que aceitar só porque sim, só porque sempre foi assim.
Tendo sempre em mente uma perspetiva feminista e feminina da segurança pessoal, no PinkBelt o objetivo é sempre empoderar. Não há nada mais poderoso que a súbita realização de que o nosso corpo tem um pontapé poderoso, que a nossa voz pode ser ouvida a um quarteirão de distância e que no fundo temos muita força dentro de nós.
Como mãe do pequeno Rafa sinto que é cada vez mais importante lutar por esta não aceitação da violência e batalhar por uma sociedade mais justa e mais segura.
Mais informações acerca do PinkBelt em https://online.statartesmarciais.com/
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